São Paulo, domingo, 17 de julho de 1994
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Boa sorte, Brasil!

ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES

Richard Cobden (1804-65) foi um parlamentar inglês que se destacou na luta contra o excesso de regulamentação nas atividades econômicas. Ele tinha uma crença quase infinita na força do trabalho e um profundo desprezo pelos que se apoiavam muito na sorte para atingir seus objetivos. Dele, carrego em meu bolso as seguintes frases:
"A sorte tende a esperar que a boa nova chegue de surpresa, enquanto que o trabalho faz a boa nova acontecer. A sorte aguarda na cama que tudo lhe saia bem, enquanto que o trabalho levanta cedo para transformar o problema em solução. É por isso que os preguiçosos sempre contam com a sorte, enquanto que os trabalhadores crêem em causa e efeito".
Tudo isso me veio à mente por causa do jogo de hoje. Ele será um embate entre a sorte e o trabalho. Pela filosofia de Cobden, a vitória dependerá mais do trabalho do que da sorte. Mas futebol não é matemática. Nem sempre dá a lógica. Vejam o que o baixinho Romário conseguiu fazer no meio de dois gigantes no último jogo.
No futebol, a sorte conta. E conta muito. O Cobden que me desculpe, mas, desde o jogo da Suécia, coloquei seus belos ensinamentos em quarentena. Até amanhã, eles estarão sob efeito suspensivo.
Nossos rapazes têm se esforçado ao máximo. Têm treinado com afinco. Certo ou errado, o criticado Parreira vem dando o melhor de si. A preparação física é das melhores. A organização da comitiva está boa. Tudo isso é trabalho. Muito trabalho.
Os italianos também são trabalhadores. Começaram mal e melhoraram consideravelmente ao longo do certame. Todos eles vêm se esforçando no limite. São adversários de respeito.
Mas, no caso da partida de hoje, definitivamente, Cobden está errado: o resultado do jogo dependerá muito de sorte. Mas penso que o Brasil conta com algo adicional. Uma coisa que vai além da sorte. E que vai nos ajudar. Vai ser decisiva. Explico-me.
Consta que a seleção brasileira pretende dedicar o "tetra" ao nosso querido Ayrton Senna. Não sei se é verdade. Mas, se for, ganhamos aí um grande aliado. Um precioso parceiro. O Ayrton não deixará o Brasil perder. Não pela homenagem prometida –pois ele é um brasileiro desprendido–, mas exatamente porque ele sempre colocou o Brasil na frente de tudo.
O Ayrton conhece muito bem a importância dessa vitória no momento atual. Mais do que ninguém, ele acompanha a ânsia do nosso povo por um momento de alegria. Um povo sofrido e humilhado, que precisa desesperadamente de alguma coisa como o tetracampeonato do mundo para levantar o seu orgulho de ser brasileiro.
Portanto, lutem, garotos. Defendam a nossa bandeira. Ressuscitem o nosso amor. Boa sorte, Brasil. E que Ayrton continue conosco!

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