São Paulo, domingo, 17 de julho de 1994
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Luciene Adami "volta à vida" depois de um ano longe da TV

MARCELO DE SOUZA
DA REPORTAGEM LOCAL

Luciene Adami, 30, não aguentava mais ficar de papo para o ar, sem fazer nada.
Desde que fraturou a perna e o pé em um acidente de carro, em janeiro do ano passado, ela teve que deixar de lado a vida prática e se dedicar a um longo período de convalescença.
"Exilou-se" em Porto Alegre, sua cidade natal, e ficou dependente dos pais para tudo, até ir ao banheiro.
No mês passado, ainda mancando e tendo que fazer fisioterapia diariamente, Luciene se cansou da pasmaceira e resolveu voltar a São Paulo. Deu certo.
Um dia depois de aportar na Paulicéia, recebeu um telefonema redentor de Nilton Travesso, o diretor-geral de "Éramos Seis", do SBT. Era um convite para participar da novela.
Luciene aceitou no ato. "Foi surpreendente", diz. "Eu precisava muito voltar a trabalhar porque já estava saturada de não fazer nada."
Em "Éramos Seis", a atriz interpreta o papel da mimada e problemática Maria Laura, filha do sírio-libanês Assad (Antônio Petrin).
Satisfeita com o novo trabalho, Luciene diz que se encanta com a magia dos cenários e figurinos da novela, ambientados nos anos 30.
Para ela, a "viagem pelo tempo" começa já na sala de maquiagem da emissora. É lá que a atriz começa a se transformar. No lugar de suas modernas indumentárias, entram singelos vestidinhos de cores neutras e laçarotes na cabeça.
A metamorfose se completa quando Luciene grava. Esconde o sotaque gaúcho –que ela "aperfeiçoou" em sua última estadia em Porto Alegre– e dissimula os passos ainda meio inseguros por causa do acidente.
"Disfarçar que eu não manco é a mesma coisa que disfarçar o sotaque", diz ela, bem-humorada.
Na verdade, a forte pronúncia sulista já lhe trouxe muita dor de cabeça.
Em 85, recém-chegada do Rio Grande do Sul, foi aprovada para participar da novela "Ti-Ti-Ti", na Globo. Dias depois, foi avisada que o então diretor global Daniel Filho havia considerado seu sotaque "nojento" e o papel não seria mais dela.
A rapidez com que veio e se foi sua primeira chance de fazer TV, no entanto, não a assustou. Decidiu continuar no eixo Rio-São Paulo. O sul havia ficado muito pequeno para ela.
Mesmo porque em Porto Alegre ela já havia feito de tudo. Começou com um prosaico curso de magistério, com direito a estágios em escolas e tudo o mais.
Mas não tardou a incrementar seu currículo artístico –do qual constavam onze anos de balé clássico– com cursos de teatro e cinema. Até vocalista de banda de rock, Urubu Rei, ela foi.
A primeira incursão efetiva pela TV foi em 88, quando passou a apresentar o infanto-juvenil "Revistinha", na Cultura, ao lado de Ney Piacentini.
"O programa foi uma ótima experiência e nele eu pude desenvolver meu trabalho de atriz, já que fazíamos muitas improvisações", recorda ela.
Em 89, veio o convite que mudou sua vida: trabalhar em "Pantanal", a revolucionária novela da Manchete que levou a Globo à histeria por causa dos altos índices de audiência que atingia.
Felicíssima por poder conhecer de perto a região do pantanal Matogrossense, Luciene não esperava que seu papel na novela fosse ter tanta repercussão.
A sensual Guta –que voltava da cidade grande para a casa dos pais, aterrorizando-os com seus costumes liberais– foi e ainda é um marco em sua carreira (leia texto abaixo).
Não é para menos. Guta era uma das protagonistas das várias cenas de nudez da novela. O belo corpo de Luciene foi aclamado como unanimidade. De sobra, ela ainda mostrou uma eficiente interpretação.
Depois disso, permaneceu na Manchete, onde participou da nem tão bem sucedida novela "A História de Ana Raio e Zé Trovão" e também apresentou o "Programa de Domingo".
No final de 92, começou a ter mais tempo para se dedicar ao teatro e participou da montagem de "As Mil e Uma Noites", que excursionou por todo o país.
O acidente de carro, enquanto viajava de férias com o namorado pelo interior da Bahia, veio logo em seguida e mudou o curso de sua vida.
Sempre muito ativa, Luciene se viu impotente para executar qualquer um de seus inúmeros planos.
Teve algumas crises de depressão e ansiedade por conta disso, mas resolveu desenvolver o que se pode chamar de "evolução interior". O esoterismo era a palavra de ordem.
Luciene dedicou seu tempo ocioso às meditações, à ioga e à leitura do I Ching. Além disso, estudou com mais dedicação uma antiga paixão, o hinduísmo.
Avaliando o "retiro" forçado como positivo, a atriz está animada com a sua "volta à vida".
"Hoje me conheço bem mais e sei respeitar as pessoas com quem eu convivo", diz ela em forte e bom "gauchês", enquando vai caminhando para a tal sala de maquiagem, mancando.

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