São Paulo, domingo, 24 de julho de 1994 |
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Fiel descarta conselhos da igreja sobre contracepção
GILBERTO DIMENSTEIN
Segundo pesquisa do Datafolha, apenas 7% deles dizem seguir orientação religiosa sobre planejamento familiar. Essa constatação é coerente com estatísticas divulgadas por entidades ligadas à saúde pública e IBGE: haveria hoje cerca de 9 milhões de mulheres esterilizadas e, por ano, 2 milhões de abortos. São algumas das explicações da rápida queda do crescimento da população brasileira. Patrocinada pela Comissão de Cidadania e Reprodução, a pesquisa realizou entrevistas em quatro capitais: São Paulo, Porto Alegre, Recife e Distrito Federal. O objetivo era medir o grau de conhecimento sobre a Conferência de População da ONU, prevista para setembro deste ano, no Cairo (capital do Egito). O Datafolha constatou que 78% dos entrevistados estão desinformados sobre o encontro do Cairo, onde serão discutidos temas como explosão populacional, aborto e métodos anticoncepcionais. Mais revelante, porém, foi a constatação de que a Igreja Católica, apesar de sua ostensiva posição contra métodos contraceptivos, não está sensibilizando os católicos. O Vaticano resolveu investir pesado contra as teses favoráveis ao aborto e métodos como a camisinha ou pílula. "Em nome de quem fala a hierarquia eclesiástica no Brasil, se nem sequer consegue falar em nome de seus fiéis?", pergunta a pesquisadora do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), Elza Berquó. Num texto preparado em conjunto com Margareth Arilha, da Comissão de Cidadania e Reprodução, Elza reclama que a Igreja exerce seu poder de pressão no aparelho estatal. Cita-se, em particular, a condenação à campanha do Ministério da Saúde a favor da camisinha. Segundo o Datafolha, 88% dos entrevistados não seguem qualquer orientação religiosa de padres ou pastores no que se refere a assuntos reprodutivos. A porcentagem sobe para 92% em Porto Alegre e, em São Paulo, para 89%. Entre os católicos que se intitulam "não-praticantes", 94% não tomam decisão baseado nos conselhos religiosos. É mais alto do que os que se dizem ateus ou sem religião (93%). Indagados sobre se concordavam com a posição da Igreja com relação ao uso de camisinha, 74% discordaram totalmente e 13% discordaram em parte. Entre os que têm renda superior a dez salários mínimos, a condenção total é de 83%. Entre os católicos praticantes, a discordância total é de 58% e entre os que se intitulam "não-praticantes", é de 79%. A maioria dos entrevistados (71%) afirma que o governo não está cumprindo a Constituição, que determina ser direito de todos o acesso ao planejamento familiar. Metodologia A pesquisa do Datafolha é um levantamento por amostragem estratificada, com cotas de sexo e idade, sendo que o conjunto da população eleitora da cidade é tomado como universo da pesquisa. O levantamento, realizado entre os dias 9 e 13 de junho, ouviu 640 pessoas em São Paulo, 430 em Porto Alegre, 412 em Recife e 592 no Distrito Federal. A margem de erro é de três pontos percentuais para o conjunto das quatro cidades. A direção do Datafolha é exercida pelos sociólogos Antonio Manuel Teixeira Mendes e Gustavo Venturi. A coordenação das Pesquisas de Opinião é responsabilidade de Wilson Aganhathios Chammas. Texto Anterior: O sonho do celular Próximo Texto: CONSELHOS EM BAIXA Índice |
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