São Paulo, domingo, 24 de julho de 1994
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2,7 mi têm dissídio em 3 meses

CRISTIANE PERINI LUCCHESI
DA REPORTAGEM LOCAL

Se aumento de salário é igual a aumento de inflação, o Plano Real corre real perigo em setembro, outubro e novembro, quando mais de 2,7 milhões de trabalhadores têm data-base e terão no mínimo, pela lei, reajuste segundo o IPC-r.
São, apenas entre os números fornecidos ao Dieese pelos sindicatos filiados, 700 mil em setembro, 500 mil em outubro e 1,5 milhão em novembro.
Laerte Augusto Galizia, superintendente dos sindicatos patronais de esquadrias metálicas e de márnore e granito do Estado de São Paulo, acredita que todo empresário repassa qualquer aumento de custo aos preços.
Por isso vê uma inevitável "inflação de data-base" no final do ano. Ele defende antecipações, como as concedidas pelos sindicatos dos quais participa, para reduzir o impacto dos reajustes salariais sobre os custos e preços.
Já Athanase Nicolas, sócio-diretor da Artemis e diretor do Sindivest, diz que "não dá para colocar nos preços" o aumento concedido às costureiras.
Ele calcula que o impacto dos 14% de reajuste salarial seria de 5% a 6% sobre os preços da lingerie. "Mas nós vamos ter que engolir os aumentos de custos. A lingerie já está com um preço razoável e as vendas já caíram mais de 35%", afirma.
O setor, diz, terá de lutar por matérias-primas mais baratas e juros menores.
"Os empresários podem absorver os aumentos salariais aceitando margens de lucros menores mas obtendo ganhos em quantidade de venda", afirma Antônio Prado, coordenador de produção técnica do Dieese.
Prado diz que juros mais baixos ajudariam a evitar alta nos custos das empresas e a economia a crescer, tornando a absorção dos aumentos salariais pelos empresários mais fácil.
"O que dá mais para aceitar é a utilização de uma 'âncora salarial' no programa de estabilização econômica", afirma Prado.
Carlos Antônio Luque, presidente da Ordem dos Economistas de São Paulo e diretor de pesquisas da Fipe acredita que, sem crescimento econômico, qualquer melhora no salário real ou redução dos juros agora gera inflação.
"Temos uma das piores distribuições de renda do mundo e esse é um dos problemas básicos a resolver", afirma.
Segundo Luque, é fundamental retomar os níveis de investimento no país, que hoje estão em 15% do PIB mas já foram de 23%.
(CPL)

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