São Paulo, domingo, 24 de julho de 1994
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'Gigante chinesa' quer ouro em Atlanta

JAIME SPITZCOVSKY
DE PEQUIM

Encerrar a carreira com uma medalha de ouro na Olimpíada de Atlanta-96 é o sonho de Zheng Haixia, 28, a mais alta estrela do basquete feminino chinês.
Com seus 2,04 m de altura, ela solta o sorriso maroto e ressalva: "Mas antes disso, quero vencer, em outubro, nos Jogos Asiáticos que serão realizados no Japão".
Zheng aumentou a carga de treinamento e em vez das quatro horas diárias, saltou para seis. Num dos intervalos entre os exercícios, ela recebeu a Folha.
Quando entrou na sala de visitas do centro esportivo, precisou "fazer uma ginástica" para não bater a cabeça no batente da porta.
"Nos Jogos Asiáticos, a Coréia do Sul representa nosso principal adversário", constata a jogadora.
Mas, acrescenta, que as repúblicas que formavam a União Soviética, como o Cazaquistão, também serão adversários difíceis. Têm tradição na modalidade. Nas décadas de 60 e 70, e início de 80, a hegemonia mundial nos torneios femininos era dos times soviéticos.
Zheng faz a análise com sua voz grossa, quase masculina.
Cabelos presos por uma fivela, veste uma camiseta do time profissional norte-americano de basquete do Chicago Bulls e uma bermuda xadrez.
No pulso esquerdo, o toque feminino de duas pulseiras de pano.
A lista de títulos colecionados por Zheng em sua carreira não é tão alta. Neste ano, faturou os Jogos Universitários Mundiais.
Nas três Olimpíadas que participou, o melhor resultado foi em Barcelona 92, medalha de prata, enquanto nos quatro Mundiais jogados, chegou a um vice-campeonato neste ano na Austrália, quando a China foi derrotada pelo Brasil.
"Admiro muito a Hortência e a Paula, em especial o espírito de luta delas", diz Zheng.
Mas as memórias do Brasil não estão ligadas apenas à derrota.
A "gigante chinesa" lembra que na última vez que esteve em São Paulo, no ano passado, conseguiu encontrar várias lojas com roupas para o seu tamanho.
"Isso não é muito comum", lamenta a jogadora, que é atração em todos as partes do mundo onde a seleção chinesa costuma jogar.
A tarefa árdua de achar roupa só fica um problema menor se comparado com as dificuldades que Zheng enfrenta para entrar em um carro.
"Isso é terrível", reclama. "Ninguém pensa em pessoas da minha altura quando desenha um carro."
Para driblar esse problema, a atleta recorre, com frequência, a uma saída chinesa. Vai de bicicleta. Viagem de avião também pode criar problemas. "Só vou de primeira classe", sentencia ela.
Zheng não tem namorado e diz que suas preocupações atuais excluem casamento e a idéia de ter filhos.
Perguntada se a altura vai dificultar a busca por um "príncipe encantado", ela solta uma gargalhada e responde em estilo de provérbio chinês: "Problemas de altura e beleza não impedem um amor verdadeiro".
A carreira no basquete começou em 1979, quando Zheng tinha 12 anos e 1,74 m de altura. Em casa, a caçula sempre chamou atenção pela altura.
"Meus pais tinham um tamanho normal e entre meus quatro irmãos, o maior tem 1,80 m", conta ela, que adora jogar basquete.
Zheng Haixia gosta de música (clássica e popular chinesa) e leitura, atividades que ocupam seu tempo livre, ou melhor, os momentos que está desobrigada dos treinamentos e exercícios.
Aproveita também esses períodos para ensinar esporte, dedicando-se especialmente ao trabalho com crianças, outro prazer.
Essência de jasmin é seu perfume preferido, bem como as cores preto e vermelho.
Apesar do corpo avantajado (2,04 m de altura, aproximadamente 110 kg), suas preferências alimentares surpreendem: peixes e frutas. Mas ela detesta cozinhar.
Hoje, quando não está na seleção, Zheng joga no "Primeiro de Agosto", o time do Exército e campeão nacional.
Pensando em terminar a carreira em 96, ela desenha os planos para o futuro: "Não quero me afastar do basquete, quero contribuir para o desenvolvimento do esporte em nosso país, talvez como treinadora de crianças ou dirigente".
"Acho que nosso basquete tem um futuro brilhante pela frente", opina Zheng, com otimismo.
A pivô, estrela da seleção de seu país, afirma que o número de admiradores está crescendo.
"Por isso vamos nos desenvolver ainda mais", diz a jogadora, embebida por um otimismo chinês.

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