São Paulo, domingo, 24 de julho de 1994 |
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A MISÉRIA MORA AO LADO
ANNETTE SCHWARTSMAN "Quando você mora na periferia, não tem muita escolha. Acaba gostando daquela desgraça, pois sai de casa e tropeça em cadáveres". Com a frase, o roterista e escritor Bonassi justifica sua queda pelo abandono, a desolação, a sujeira, a humilhação e a violência – ingredientes básicos de seu romance "Subúrbio", recusado por quatro editoras e publicado pela Scritta em abril.O livro é protagonizado por um casal de sexagenários sem filhos e sem assunto, que se aturam de forma monossilabica há anos. Seu infortúnio é narrado em um estilo precioso e sem paliativos, embora poético e rico em detalhes. Bonassi tem 31 anos. É filho de um eletrotécnico e de uma dona-de-casa. Nasceu e viveu na Mooca até cinco anos atrás. Escapou de ser motorista de táxi por acaso, "Foi a universidade que me fez saltar de classe", diz. Formado em cinema pela ECA, além de "Subúrbio" escreveu o romance "Céu de Estrelas", um livro de poesias, um de contos, quatro peças, três longa-metragens, 14 curtas e incontáveis roteiros de programas de TV – entre eles "Castelo Rá-Tim-Bum" e "Mundo da Lua", ambos da Cultura. No forno, tem um novo romance e um livro de contos – já vendidos para a sua atual editora –, dois longas, um curta e uma peça. O escritor tem dois hábitos básicos. O primeiro é escrever em dupla. "Escrever diálogos sozinho é muito ruim". Seu parceiro mais constante é Victor Navas. "Em geral, cada um escolhe um ponto de vista e fica defendendo. Costuma dar certo." O outro é reescrever – sempre. Ele acha que se os grandes escritores tivessem tido acesso ao computador, suas obras seriam melhores "Mão é para pegar, não para escrever", diz Bonassi. – Annette Schwartsman. Texto Anterior: O consenso de Jacarezinho Próximo Texto: A FERA DA REFORMA CHIQUE Índice |
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