São Paulo, domingo, 24 de julho de 1994 |
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OLHEIRO DO TETRA Por Matinas Suzuki Jr. MATINAS SUZUKI JR.
Crédito Foto: Matinas Suzuki Jr. Observações: COM SUB-RETRANCAS Assuntos Principais: COPA DO MUNDO; FUTEBOL; EUA OLHEIRO DO TETRA Uma Copa é um concerto de Nações. O mundo chega ao final do século e do milênio revirando o seu caleidoscópio de etnias, raças, países. O futebol chega ao fim do século e do milênio como "o" esporte deste mundo. A Copa é o maior espetáculo da terra. A América é a terra do espetáculo. "Let's go to the goal", dizia um dos slogans da Copa. Vamos direto ao gol. A Nova Ordem Mundial criou uma legião internacional de bipatriados. Milhões de deserdados do Terceiro e Quarto Mundos que vieram ser mais um dos bravos na Terra dos Bravos. Além de milhões de filhos do Primeiro e do Segundo Mundos que vieram, há muito tempo, procurar a prosperidade na Terra das Oportunidades. A América é um país mosaical, patchwork de outros que se costuram ao seu solo. Os EUA são o território do multiculturalismo. O país que, durante quase um século, impôs a sua cultura ao mundo, passa a ser contaminado por milhares de células de pequenas culturas estrangeiras. O país que, narcisisticamente, só olhava o espelho do seu cinema, dos seus costumes, dos seus esportes, passou a acolher, na sua vida cotidiana e institucional, o imenso repertório de pequenos outros países que construíram a Grande Diferença. Em princípio, o "soccer" veio para os EUA como uma espécie de convidado trapalhão. Depois, como uma espécie de adivinhe quem vem para o jantar. Acabou a noite dançando com a mulher do dono da festa. Não há muito mistério nesta conquista. O futebol já era multiculturalista desde criancinha. Antes, a América se perguntava: se é bom para nós, por que não é bom para eles? Agora, todos os dias, os jornais americanos perguntam: se é bom para o resto do mundo, por que ainda não é bom para nós? Bem, está começando a ser. No país do não-futebol, todas as etnias, todas as torcidas, todas as magnéticas se sentiram em casa. Terra de muitos e terra de ninguém. Nunca houve tanta gente nos estádios em uma Copa do Mundo. Nunca as torcidas se sentiram tão à vontade. As magnéticas européias fazem o seu rito saturnal, a sua carnavalização medieval. Vestem fantasias e investem contra a ordem. Inversão de tudo: dos papéis sociais, sexuais, a platéia é também o espetáculo. As torcidas dos países da periferia do mundo, ao contrário, procuram valorizar os seus elementos caracterizadores, o seu mesmo, a suma da sua autenticidade que, se triunfasse na América, seria a vingaça dos colonizados. Como o elo procurado por todos corre solta, livre, a bola. Aliás, a bola e seus chutadores mais potentes: as empresas transnacionais que patrocinam a Copa e que, com estratégias globais, sabem que o mercado multiculutral é o "seu" mercado. Um viajante solitário, que deu quase duas voltas na Terra sem sair da América, assistiu a 23 jogos e procurou olhar a grande stravaganza da bola através de uma lente de 30mm, autofocus (neste mundo, só se enxerga bem com a ajuda da eletrônica), embutida em um câmera Canon Eos-Elan. Aqui vai a viagem de um duplo amador: fotógrafo amador, amador da bola. Texto Anterior: A FERA DA REFORMA CHIQUE Próximo Texto: MISTURA DE TORCIDAS Índice |
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