São Paulo, quinta-feira, 28 de julho de 1994
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Lula assume direção da campanha e do PT

CARLOS EDUARDO ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

O candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, decidiu assumir a direção de sua campanha e, com a imposição do deputado Aloizio Mercadante (SP) como vice, retomou o controle do PT, que havia perdido para a extrema-esquerda do paqrtido.
Lula sabe que a escolha de Mercadante teria a leitura política que inverte o atual quadro petista.
O deputado é um dos mais próximos a Lula no partido, mas enfrenta a hostilidade das correntes que até ontem eram hegemônicas.
As alas de esquerda e extrema- esquerda do PT fizeram do combate às posições de Mercadante o trampolim mais importante para tomar o poder interno.
Essas alas são representadas na coordenação da campanha de Lula por Rui Falcão (Opção de Esquerda) e Luiz Eduardo Greenhalgh (Na Luta PT).
Aborrecido com a incapacidade de a coordenação resolver impasses surgidos na campanha, Lula aproveitou o episódio Bisol para sinalizar que sua candidatura, de agora em diante, será tocada por pessoas de sua absoluta confiança.
Desde o ano passado, Lula era aconselhado por amigos a deixar claro que quem mandava no partido era ele.
Sem paciência para as intermináveis discussões ideológicas e reuniões que fazem o cotidiano petista, Lula ensaiou algumas vezes o sugerido "murro na mesa", mas sempre hesitou.
O candidato preferiu agir na hora que avaliou como a mais perigosa para seu sonho presidencial.
O discurso excessivamente radical e o sectarismo do partido nas alianças estaduais, pensa Lula, estavam empurrando sua candidatura para o gueto, como querem seus adversários.
Com a escolha de Mercadante – que é hoje, igualmente, minoria na direção do partido –, Lula pretendeu acenar com um eventual governo mais aberto a outras forças polÍticas.
O dilema petista atual é ter uma direção respaldada pela militância, mas sem presença significativa na sociedade, e uma minoria partidária com voto na sociedade, mas sem peso na burocracia partidária.
Presidente do PT, Falcão assumiu o poder e procurou, no exercício do cargo, se desvincular do carimbo de líder do grupo ortodoxo que desbancara os amigos mais próximos de Lula.
Apesar do esforço de Falcão para não entrar em choque com Lula, é inegável que a escolha de Mercadante representa um duro revés para o presidente do partido.
A opção por Mercadante significa no PT a vitória das teses mais próximas à social-democracia e o fortalecimento das correntes que lutam pelo reforço do valor do parlamento na vida democrática.
Perdem, junto com os liderados por Falcão no grupo "'Opção de Esquerda", o minoritário "Na Luta PT", ala radical que tem Greenhalgh como expressão pública mais conhecida.
A idéia de Lula, agora, é tocar a sua campanha de rua e deixar para Mercadante um papel maior na coordenação política do PT.
Apesar do baque, os grupos mais radicais devem aceitar a solução, já que entenderam o recado de que o partido voltou a ter dono.

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