São Paulo, quinta-feira, 28 de julho de 1994
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Berlusconi nega que vá renunciar

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O governo italiano negou ontem que o premiê Silvio Berlusconi esteja pensando em renunciar.
Os rumores surgiram depois de expedida ordem de prisão preventiva contra Paolo Berlusconi, irmão do primeiro-ministro e atual chefe do seu império econômico.
A possibilidade de queda do gabinete fez com que a lira caísse em relação ao marco: 1.006 liras valiam um marco ontem.
Anteontem, 996,7 liras valiam um marco. O valor mais baixo da lira em relação ao marco é de 1.010,10 liras para um marco.
"Essas são informações falsas e tendenciosas destinadas a alimentar manobras especulativas", disse o porta-voz da Presidência, Antonio Tajani.
"O governo não tem irmãos, primos ou parentes. O governo é o governo da República", disse Giuliano Ferrara, porta-voz do gabinete de governo.
Paolo Berlusconi é acusado de ter pago US$ 210 mil a fiscais da receita. Salvatore Sciascia, diretor fiscal do Fininvest, empresa financeira de Berlusconi, disse na segunda-feira à Justiça que pagou propina a fiscais da receita por ordem de Paolo.
Não se conhece o paradeiro de Paolo. Ontem, especulava-se que ele esperaria para se entregar hoje.
O juiz que vai interrogá-lo estava de folga ontem e Paolo estaria tentando evitar ficar na cadeia.
À noite, seus advogados estiveram com os juízes da Operação Mãos Limpas para negociar a apresentação de Paolo. Eles queriam garantias de que, se Paolo se apresentasse voluntariamente para depor, sua prisão preventiva seria relaxada. Não houve acordo.
Paolo Berlusconi já esteve preso em outra ocasião por causa da Operação Mãos Limpas.
Em 11 de fevereiro ele foi detido para ser interrogado e ficou quatro dias preso. A suspeita era de fraude contra a receita.
O premiê Berlusconi está sendo criticado pelo oposição, pela imprensa e até por aliados por não conseguir separar seus interesses como empresário dos interesses do governo.
Depois que foi emitida a ordem de prisão contra Sciascia, Berlusconi se reuniu, no domingo, com os diretores do Fininvest e membros do seu gabinete.
O premiê disse que foi só um encontro entre amigos, mas recebeu duras críticas.
O porta-voz Ferrara disse ontem em entrevista admitir que há algum conflito entre os interesses políticos e os empresariais.
"Mas não se pode querer que Berlusconi resolva isso em três meses, quando levou 30 anos para construir seu império."
A oposição pediu ontem que o ministro das Finanças esclareça ao Parlamento as relações entre sua empresa Tremonti e Associados e o Fininvest.
O ministro Luigi Tremonti é um dos mais importantes tributaristas da Itália.
Os parlamentares querem também que ele explique as atividades do Estudio Tremonti International, que tem participação numa empresa financeira no Panamá, um paraíso fiscal.
"Uma vez mais estamos diante de um conflito de interesses", disse Beniamino Andreatta, do Partido Popular (ex-democracia cristã).
Foi recusada ordem de prisão internacional contra o ex-primeiro-ministro socialista Bettino Craxi. Craxi é acusado em dois processos e investigado por 20 outros casos de corrupção.
Ele passou os últimos meses em sua casa de praia na Tunísia e evitou assim a prisão preventiva. A alegação é de que seu estado de saúde não lhe permite viajar.

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