São Paulo, quinta-feira, 28 de julho de 1994
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Corrente pra cima

A economia brasileira acaba de registrar novos recordes de desempenho no comércio exterior. Nos últimos 12 meses, as exportações passaram pela primeira vez o valor acumulado de US$ 40 bilhões. As importações e a corrente de comércio (exportações mais importações) também atingiram valores inéditos.
Esses resultados são mais uma indicação da tendência de amadurecimento da estrutura econômica brasileira. Muitos chegaram a prever que a abertura da economia traria uma desestruturação produtiva e que, com o tempo, a própria competitividade seria abalada. O aumento da corrente de comércio prova que é possível melhorar simultaneamente o desempenho dos setores exportador e importador.
Ao mesmo tempo, não há como ignorar que os resultados dos últimos meses são ao menos em parte uma expressão de fatores transitórios. De um lado, certos produtos tiveram pela frente mercados extraordinariamente favoráveis. É o caso do café, cujos preços dispararam, mas que nos últimos dias já dão sinais de recuo para níveis mais baixos. Houve também a recuperação da economia dos EUA, grande consumidora de produtos brasileiros como o suco de laranja.
O primeiro semestre foi, também, palco de juros extraordinariamente elevados no Brasil. Isso significou, para os exportadores, um estímulo adicional. Houve um verdadeiro "boom" de contratos de antecipação de exportações, por exemplo. Ou seja, o exportador muito antes de embarcar seus produtos fechou o contrato para receber o quanto antes seus dólares, convertê-los e aplicar os cruzeiros reais correspondentes a juros reais elevados.
A partir do real, algumas dessas condições tendem a se inverter. Os juros devem cair e a taxa de câmbio, ao valorizar o real, barateia as importações e encarece as exportações. Resta esperar que a inflação dos próximos meses seja suficientemente baixa para ser compensada, entre os exportadores, por ganhos de produtividade e competitividade. É a forma mais segura de manter em alta a corrente que integra o Brasil aos mercados internacionais.

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