São Paulo, quinta-feira, 28 de julho de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O remendo Mercadante

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – A indicação do deputado Aloizio Mercadante para vice de Luiz Inácio Lula da Silva evita o aprofundamento do desgaste provocado por José Paulo Bisol. Mas é no mínimo duvidoso que a solução atraia votos. Motivo: a chapa tornou-se mais restrita, centrada apenas no PT paulista.
Os eleitores de Mercadante já são, em sua maioria, eleitores de Lula. No mais, calculava-se que, com sua previsivelmente expressiva votação, ele ajudaria a puxar mais deputados para a bancada do PT na Câmara –obter apoio no Legislativo é uma das questões vitais de um eventual governo Lula.
Há, porém, dois aspectos eleitoralmente positivos ao PT. A imagem do deputado é boa. Obteve notabilidade popular por seu envolvimento em duas CPIs, ambas resultando na descoberta de ladroagens –o que serve como uma espécie de compensação ao desastre Bisol.
Mais importante é a imagem de moderação cultivada pelo deputado, capaz de reduzir a taxa de aflição e desconfiança dos setores tidos como "conservadores" em relação a Lula. Sobressai a face mais moderada do partido, no qual os radicais ocuparam cargos estratégicos.
Na sua passagem pela Câmara, Mercadante abriu canais de diálogo com economistas de outras de tendências como Delfim Netto, Roberto Campos ou Francisco Dornelles. E também com lideranças mais à "direita", como Luís Eduardo Magalhães, do PFL.
Em essência, não foi uma solução, mas um remendo. O PSDB torcia ardorosamente para que Bisol ficasse, utilizando-o como alvo prefencial no horário eleitoral gratuito. O fato é que o PT, despencando nas pesquisas, ainda não deu indícios de estar saindo de seu inferno astral.
PS – A direção do PPR estudava ontem a possibilidade de tentar na Justiça a impugnação do nome de Mercadante como vice. Baseado no jurista Célio Silva, especialista em legislação eleitoral, o partido imagina que a escolha só pode ser feita através de uma convenção e não por indicação das executivas dos partidos que formam a Frente Brasil Popular. A lei não prevê substituição para renúncia de candidato.

Texto Anterior: O real ou o insondável
Próximo Texto: A volta do mestre
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.