São Paulo, quinta-feira, 28 de julho de 1994
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Cruzeiro revela novos ângulos de Londres

WILLIAM E. SCHMIDT
DO "TRAVEL/THE NEW YORK TIMES"

Com dois breves toques de buzina, o capitão reduziu a marcha, fez o Sara Kathleen deslizar de lado e, contra a correnteza do Tâmisa, começou a virar o barco. Tinha acabado de passar por baixo da Tower Bridge, a ponte da Torre.
A maioria dos passageiros que pagaram pela viagem turística de uma hora no barco de convés aberto ainda se retorcia nos bancos, voltando os olhos na direção das grandes torres góticas que se elevam sobre o rio.
"Agora é uma boa hora para vocês sacarem as câmeras", anunciou o capitão, pelo alto-falante, enquanto virava a proa na direção norte do rio e dirigia entre os imensos pilares de pedra da torre.
Não importa que o barco, e todas as câmeras, agora estejam voltados para o sol do fim da tarde.
Iluminadas por trás e emolduradas em sombra, as torres de pedra cinzenta e as vigas de ferro recém-pintadas, de branco e azul brilhante para celebrar o centenário da ponte, agigantam-se sobre o rio, oferecendo uma visão nova de um dos marcos mais conhecidos de Londres.
Na capital britânica pode-se excursionar de ônibus, a pé, por museus ou de metrô. Mas, nas tardes de verão, poucas maneiras de conhecer a cidade são mais interessantes do que navegar pelo Tâmisa no convés de um barco-cruzeiro.
Afinal, o rio não é só o coração da velha capital e, de certo modo, sua rua principal: é a sua própria razão de existir. Londres foi fundada pelos romanos, no ano 43 d.C., como porto fluvial.
Como ponto de observação de Londres, o rio descortina visões completamente novas, abrindo uma perspectiva angular da cidade e do céu que raramente se percebe com os pés no chão.
Em Londres, com seu denso labirinto de ruas estreitas, a vista se concentra mais nos detalhes, no primeiro plano, do que no panorama amplo da cidade.
Mas, vistos do Tâmisa, a grande cúpula da catedral de Saint Paul, os prédios do Parlamento e o esplendor oitocentista da Somerset House, um pouco depois da ponte de Waterloo, ficam muito maiores e mais poderosos.
O rio hoje é mais limpo e mais agradável do que foi no passado. As autoridades de saúde informam que não é próprio para nadar, mas os funcionários da National River Authorities dizem já ter contado 112 espécies de peixes no rio, resultado dos projetos de despoluição iniciados nos anos 70.
Nas suas margens inferiores, os barcos voltaram a recolher amêijoas; linguados de Dover e até salmões nadam livremente por toda a sua extensão.
Ainda no século 19, o Tâmisa era pouco mais que uma fossa corrente: mais de 400 esgotos caíam diretamente no rio.
Ainda é muito movimentado, mas o tráfego não é nem de longe congestionado como no início deste século, quando navios cargueiros ancoravam em longas filas diante dos armazéns que margeavam o rio.
Desde aquela época, muitos desses armazéns –especialmente os que ficavam ao sul, em frente à City de Londres– foram convertidos em modernos prédios de apartamentos, escritórios e restaurantes. Em vários locais, "pubs" e restaurantes abriram terraços com vista para o rio.
A maioria dos cruzeiros começa no píer de Westminster, pouco abaixo da torre do Big Ben. As embarcações, ancoradas no píer em frente à estação de metrô de Westminster, vão de barcos de dois andares com bar até paquetes menores com convés aberto.
Os turistas podem escolher entre subir o rio, em direção a Hampton Court, ou descê-lo, em direção à ponte da Torre e, bem mais adiante, até Greenwich.
O jeito mais simples de ver o rio é entrar em um dos barcos-cruzeiro que navegam entre Westminster e o cais da torre de Londres. A viagem dura entre 20 e 30 minutos.
Ao longo do caminho, o barco passa por baixo de seis pontes que levam veículos e tráfego ferroviário ao coração de Londres.
No verão, os pilotos de barco ficam tagarelando sobre o roteiro, misturando comentários rápidos sobre os lugares às margens do rio e piadas obviamente ensaiadas.
A jornada conduz o turista à Agulha de Cleópatra, ancestral obelisco faraônico trazido do Egito no século 18; o South Bank Center, o maior complexo cultural de Londres; a gloriosa cúpula da catedral de Saint Paul; e o HMS Belfast, o cruzador da Segunda Guerra Mundial ancorado em frente à torre de Londres.
Entre outras coisas, a aproximação da torre de Londres pelo rio oferece ao turista acidental a impressão lúgubre que devem ter tido, séculos atrás, os pares de Ana Bolena (segunda mulher de Henrique 8º, decapitada em 1536).
Condenada à morte, ela chegou à torre pelo rio, como todos os prisioneiros, e entrou na fortaleza pelo Portão dos Traidores –claramente visível, na parede da torre, apenas nas marés baixas.
Uma viagem até Greenwich leva entre 40 e 50 minutos. No percurso, o turista passa pelo meridiano zero, que divide os hemisférios Oriental e Ocidental.
A viagem rio acima até Hampton Court, o antigo palácio real, leva de três a quatro horas. Ao longo do caminho, o barco desliza entre uma zona rural exuberante com graciosos chalés e casas.
Para aqueles que não pensam ir a nenhum lugar em especial, mas querem passar algum tempo na água, há barcos regulares que partem dos píeres de Westminster e Charing Cross, alguns dos quais oferecem refeições –café da manhã, almoço ou jantar.
Este ano, há um acréscimo à frota: um cruzeiro noturno com jantar e show com imitador de Elvis Presley.
(William E.Schmidt)

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