São Paulo, sexta-feira, 29 de julho de 1994
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Discurso é 'carta de intenções'

VINICIUS TORRES FREIRE
DA REPORTAGEM LOCAL

Fernando Henrique Cardoso promete um programa de governo para a segunda quinzena de agosto. Deverá então detalhar o conjunto de lugares-comuns e desejos otimistas apresentados em "O Real e o Sonho", discurso que o senador leu ontem em Brasília.
Em um dos poucos momentos em que foi mais preciso, FHC fez com que sua declaração de intenções parecesse o programa de Lula (PT), seu principal adversário ideológico.
"O papel do Estado como produtor de bens e serviços de infra-estrutura será mantido nas áreas estratégicas, nas quais deverá ter a capacidade de produzir com os mesmos níveis de eficiência do setor privado", disse FHC.
São consideradas áreas estratégicas os setores de energia (petróleo, por exemplo) e comunicações (como telefonia).
Em ambos os casos, o monopólio do mercado é legalmente exercido pela União através da Petrobrás e da Telebrás.
FHC reafirmou, no entanto, que vai acelerar as privatizações e a abertura da economia. Anteriormente, FHC admitiu a concorrência de empresas privadas com estatais estratégicas.
No segundo tópico do discurso, "O sonho", FHC lembra suas cinco prioridades: emprego, saúde, educação, agricultura e segurança.
O modelo de desenvolvimento será "fundado numa sociedade educada", que vai ocupar "um lugar entre as grandes nações" em 20 anos.
Haverá mais e melhores escolas, laboratórios, universidades e bolsas de estudo. Pequenas e médias empresas, Forças Armadas, deficientes físicos e artistas terão apoio e recursos.
Segundo FHC, o Brasil possui esses recursos, muitos deles naturais, e vantagens comparativas para realizar essas metas.
O dinheiro virá do Orçamento, fundos de privatização, mercado financeiro nacional e internacional (através de títulos de longo prazo), parcerias com o setor privado e Bird e BID.
Não são especificados montantes nem direcionamento de recursos.
Com exceção da defesa do Plano Real, as intenções apresentadas por FHC poderiam ser quase que integralmente adotadas pelo PT e PMDB.
Um outro diferencial, mas de propagadanda, é o elogio de Juscelino Kubitschek, presidente entre 1956 e 1961.
FHC frisou a "tolerância e o trabalho de aproximar forças divergentes" de Juscelino.
Para FHC, JK é uma "unanimidade". Louvou a "vitalidade de suas idéias" e sua capacidade de "articulador de consensos". Lamentou que a ação de JK tenha ficado incompleta.
"Como em 1955, as próximas eleições presidenciais abrem uma perspectiva de grandes transformações", disse, lembrando o período de crise em que foi eleito JK.
Além da semelhança histórica, os condutores dessas transformações seriam parecidos. No final de sua fala, FHC lembrou sua "tolerância" e capacidade de saber ouvir.

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