São Paulo, sexta-feira, 29 de julho de 1994
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Debate católico

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Nem Lula, nem Fernando Henrique. A estrela do primeiro debate com todos os candidatos foi a Igreja Católica. Começando por dom Luciano Mendes de Almeida, uma longa fila de padres, bispos e outros mais afirmou do que perguntou.
A firmeza moral dos questionadores –ao que parece, sinceros no que falavam– acabou por arrancar uma seriedade, um rigor que não era de esperar, dos presidenciáveis. Foi um debate, ou um encontro, em raro nível de civilidade.
Aconteceu a esperada condescendência com Lula, que recebeu perguntas para mostrar, por exemplo, como não vai ceder ao "é dando que se recebe". Aconteceu, acima de tudo, a esperada rusga com Fernando Henrique, perguntado insistentemente sobre emprego e salário mínimo, mas não sobre inflação.
Nada que comprometesse o debate, que apresentou pontos redentores em outros momentos. Por exemplo, na resposta de Esperidião Amin ao bispo de Jales, dom Demétrio Valentini, da Pastoral Social, sobre os sem-terra. Eles concordaram e sorriram.
Igreja
Mas ficou mesmo para d. Luciano, que abriu o debate com um sermão de alta política, a marca do debate.
Ele tentou costurar um papel político novo para a Igreja Católica. Um papel em que se preserve a prioridade às "condições dignas de vida", mas em que a Igreja se mantenha independente. "(Ela) não tem candidato. Tem valores, que quer a todos oferecer."
Tanto é assim que agora exige dos candidatos, mais do que discursos, preparo, experiência e patriotismo.
Agenda nova
O primeiro debate na Rede Manchete, com empresários. O segundo, agora, na Bandeirantes, com bispos. Um terceiro, também na Bandeirantes, com advogados. Todos os três debates organizados e dirigidos pela velha e boa sociedade civil.
Eles anunciam, mais do que os discursos de sempre dos candidatos a presidente, o poder crescente do que d. Luciano Mendes de Almeida citava ontem à noite como "sociedade organizada", que quer participação no poder.
É ela que está definindo a chamada agenda. No lugar dos homens de marketing, entram os empresários da Associação Comercial, os bispos da CNBB, os advogados da OAB. Muito melhor.

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