São Paulo, sexta-feira, 29 de julho de 1994
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O programa que mudou o Brasil - 7

LUÍS NASSIF

Ainda que de maneira difusa, as idéias da abertura econômica haviam começado a ganhar espaço no final do governo Figueiredo. Em todas as pontas do processo apareciam as idéias fundamentais de Júlio Mourão, o técnico do BNDES pai da "integração competitiva".
Depois que constatou pioneiramente que o Brasil havia concluído o processo de mudanças estruturais no comércio exterior, Mourão deu início a um périplo que o levou de membros da equipe econômica do governo ao próprio Banco Mundial.
Em 1984, provavelmente por conta desses contatos, o Banco Mundial passou a negociar com o país empréstimos de comércio, destinado a atividades setoriais para países em crise. Um desses empréstimos era para reformas no comércio exterior. O banco já fora convencido por Mourão de que a abertura da economia brasileira ajudaria o Brasil a exportar mais –ao contrário do que dizia, por exemplo, a escola da Unicamp.
Quem coordenou os estudos iniciais foi João Baptista Abreu, então assessor de Delfim na Secretaria de Estudos Técnicos e um dos interlocutores contumazes de Mourão.
Quando começou o governo Sarney, foi para a Conselho de Política Aduaneira o economista José Tavares de Araújo Filho que, embora de formação de esquerda ortodoxa, evoluiu para as novas idéias de abertura.
Dois ex-ministros de Sarney –Luiz Carlos Bresser Pereira e Maílson da Nóbrega– são unânimes em salientar sua importância na introdução dos novos conceitos no âmbito do governo.
Tavares entrou com Funaro no governo, por conta dos critérios de grupo que norteavam a escolha de seus auxiliares. Quando arejou a cabeça, perdeu espaço junto aos unicampistas.
Quando Bresser chegou, começou a prestigiar seu trabalho. O principal formulador econômico da equipe, Yoshiaki Nakano, comprou as teses da abertura e tornou-se propagandista eficiente, expondo objetivamente a necessidade de abrir a economia numa reunião com o presidente da República, presentes Bresser e Maílson, secretário-geral do ministério.
Abertura com Sarney
Tiveram início no âmbito do governo os primeiros estudos sobre a nova política industrial, coordenados por Antônio José Antunes, também de formação de esquerda, João Baptista e Heloísa Camargo, do Conselho de Política Aduaneira, que passaram a se reunir sistematicamente com Mourão.
No fim do governo Sarney, na elaboração da terceira revisão dos Cenários do BNDES, Mourão batizou suas idéias de "integração competitiva". A expressão passou a ser usada dentro do governo, inclusive pelo candidato Fernando Collor em sua campanha.
O primeiro trabalho que se montou, por volta de 1988, foi a câmara setorial da indústria têxtil. Idéia era sentar todos segmentos da cadeia têxtil, inclusive bens de capital, para negociar início da abertura.
Por volta de maio de 1988 começaram a sair as primeiras medidas de liberalização. Segundo Maílson, o então ministro da Indústria e Comércio, José Hugo Castello Branco, surpreendentemente –para uma pessoa com sua história e passado político– teve papel importante nesse processo, assumindo a ferro e fogo as novas idéias e abafando as resistências do Conselho de Desenvolvimento Industrial e da Cacex.
Em junho de 1988 ocorreu a primeira rodada de redução tarifária. Foram eliminadas todas as tarifas redundantes e os regimes especiais de importação. A tarifa média caiu de 85% para 50%.
Em 1989, com a segunda rodada, iniciou-se a redução do Anexo C –lista de produtos cuja importação era proibida. A lista foi reduzida de 3.000 para 500 itens.
A idéia era um processo gradativo, como tudo que marcou o governo Sarney. Quando Collor assumiu, comprou as idéias e agregou um elemento inédito de ousadia, que rompeu com as últimas resistências corporativistas.

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