São Paulo, sexta-feira, 29 de julho de 1994 |
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Livro narra influência do tango no Brasil
LUÍS ANTÔNIO GIRON
Segundo Grünewald, o gênero surgido nos arrabaldes de Buenos Aires por volta de 1874 deixou raízes no comportamento, vocabulário e música do Brasil. Além de revelar áreas de contato entre MPB e tango, a obra tem dois objetivos. Contar o nascimento do tango e do lunfardo –dialeto do "bas-fond" de Buenos Aires. Sintetizar a vida e a obra do cantor Carlos Gardel (1890-1935), o mais famoso artista do tango e responsável pela popularização mundial do gênero tango-canção nos anos 20 e 30. Grünewald vem gestando a obra há um ano. Mas o culto a Gardel e ao tango começou aos 14 anos de idade. "Eu ouvia só valsa vienense", conta. "Passei a consumir quase que só Gardel". Hoje se orgulha de possuir 700 das 861 gravações que o cantor fez entre 1912 e 1935 para diversos selos. Possui também uma biblioteca sobre tango e lunfardo. A idéia primeira de Grünewald era escrever um tomo de histórias da música popular brasileira e acrescentar nos apêndices ensaios sobre o tango e o fado. O apêndice tango cresceu tanto que virou livro. O projeto inicial não foi abandonado. "Quero analisar letras significativas da MPB e publicar uma coletânea intitulada 'Impertinências' ". Constarão desta crônicas sobre diversos assuntos e os contos que Grünewald escreveu no jornal carioca "Correio da Manhã" sob o pseudônimo de Xerloque da Silva. Autor de 15 livros –entre volumes de poesia, traduções e coletâneas–, Grünewald trabalha como um lento detetive. Remoeu o tema antes de criar um volume. Já tinha escrito artigos sobre Gardel nos anos 50 e 60 no "Correio da Manhã". Alguns trechos da biografia do cantor ele extraiu integralmente de um texto que escreveu sobre o assunto há 19 anos. Para fazer suas deduções, não viajou a Buenos Aires nem foi às fontes primárias. "Fui à Argentina várias vezes. Segundo me contam, hoje é difícil ouvir tango por lá." Ele se debruçou sobre duas controvérsias em torno da figura de Gardel. Uma diz respeito à nacionalidade do artista. A outra, às suas preferências sexuais. Alguns autores defendem que Gardel nasceu em Tacuarembó, Uruguai. Outros, que era francês de Toulouse. Pesquisadores se engalfinham até hoje sobre um possível homossexualismo gardeliano, já que ele era apegado à mãe e costumava amar às escondidas. Grünewald chegou a uma posição firme: "Asseguro que Gardel era francês e heterossexual. Teve casos com pelo menos três atrizes que deixaram depoimentos. Ninguém apareceu com novas revelações. Quanto à origem, me parece incontestável seu testamento, em que se declarou francês". Mas o autor se interessa menos por polêmica do que contribuir para o estudo comparativo das culturas lunfarda e brasileira. "A obra preenche um oco bibliográfico no Brasil", diz. "Há um laço íntimo entre o tango e a música brasileira, o lunfardo e a gíria, que necessita de documentação". Ele cita palavras do lunfardo como "otário", "engrupir" e "bacana", hoje tidas por nacionais (veja quadro abaixo). O tango, aponta, exerceu uma poderosa influência na produção musical da "época de ouro" da MPB, nos anos 30 e 40. Menciona cantores como Francisco Alves e Nelson Gonçalves, que gravaram dezenas de tangos em castelhano. "Há até composições calcadas no tango argentino. Lembra de "O Boêmio", de Anacleto de Medeiros, e "A Voz do Amor", de Ernesto Nazareth. Nosso "xerloque" conclui que a fronteira do tango com o samba não é tão definida quanto a antiga competição de culturas faz crer. Livro: Carlos Gardel, Lunfardo e Tango Autor: José Lino Grünewald Lançamento: Nova Fronteira, 273 págs. Quanto: a definir Próximo Texto: Morte de Gardel firmou mito do tango Índice |
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