São Paulo, sexta-feira, 29 de julho de 1994
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Cólera atinge outro campo de refugiados ruandeses

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O cólera se espalhou do campo de refugiados de Goma para o de Bukavu, no Zaire. Há entre 150 mil e 315 mil refugiados ruandeses em Bukavu.
Já foram registrados casos da doença também dentro de Ruanda. Em Goma, onde já morreram cerca de 18 mil pessoas desde que um milhão de refugiados atravessou a fronteira no dia 14, foram registrados dois casos de meningite.
"Há potencial para uma epidemia", disse Peter Romanovsky, representante do Alto Comissariado para Refugiados das Nações Unidas em Bukavu sobre o cólera.
Os casos de meningite foram registrados por um hospital de campo montado por Israel. Segundo os médicos, é impossível saber qual a situação da doença entre os refugiados. Não há vacina contra meningite disponível em Goma.
Cerca de mil pessoas passaram ontem da zona de segurança estabelecida pelos franceses no sudoeste de Ruanda para Bukavu. A Cruz Vermelha teme que um êxodo em massa como o que aconteceu em Goma se repita.
Os refugiados na zona de segurança estão "em situação econômica e nutricional muito pior do que a dos refugiados que cruzaram a fronteira para o Zaire", disse a organização em comunicado.
A ONU calcula que há 600 mil refugiados em campos e 300 mil em áreas da zona de segurança.
A presença francesa no país está prevista para durar até 22 de agosto, quando deve ser substituída por tropas da ONU.
As agências assistenciais dizem que os ruandeses na área de segurança, na maioria hutus, não confiam na ONU. Teme-se que com a saída dos franceses os cerca de 900 mil refugiados na área passem para o Zaire.
A Cruz Vermelha diz que é preciso implementar as operação de ajuda também dentro de Ruanda. Do contrário "um novo êxodo de dimensões catastróficas pode ocorrer na semana que vem".
Os refugiados começaram a deixar Ruanda quando a Frente Patriótica Ruandesa, liderada pela etnia minoritária tutsi, tomou os últimos redutos do governo hutu derrubado, no noroeste do país.
Hutus e tutsis reiniciaram uma guerra começada em 1990, depois do assassinato do presidente Juvenal Habyarimana, em 6 de abril.
Cerca de 500 mil pessoas, na maioria tutsis e hutus de oposição a Habyariamana, foram mortos desde então.
Ontem a ministra britânica para o Desenvolvimento Internacional disse que a comunidade internacional tem que transformar Ruanda para atrair de volta os refugiados.
"A única coisa que pode salvar a maioria é levá-los de volta", disse a baronesa Lynda Chalker em visita ao campo de Kitale, Goma.
O primeiro-ministro da França, Edouard Balladur, e o secretário de Defesa dos EUA, William Perry, deverão visitar a região nos próximos dias.

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