São Paulo, sexta-feira, 29 de julho de 1994
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Os dois mundos de FHC

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Ao apresentar ontem as metas de seu governo, em Brasília, Fernando Henrique Cardoso prometeu num discurso sofisticado projetar o Brasil rumo ao Primeiro Mundo. Corta.
Detalhe revelado hoje na Folha mostra que ele se aproveita eleitoralmente do "quinto mundo". Não existe um FHC. São pelo menos dois, unidos pela vontade de ganhar a qualquer custo.
Está previsto para hoje, em Codó, interior do Maranhão, comício de FHC –aliás, aquela cidade é um dos principais centros brasileiros de magia negra. O repórter Tales Faria informa que, durante a semana, um carro de som prometeu: quem estiver lá concorre a uma casa construída pela prefeitura.
Traduzindo: típica manifestação de uso rasteiro da máquina pública. É a manipulação da pobreza denunciada nos textos do sociólogo e, depois, senador –mas aposentada pelo candidato, associado hoje aos esquemas oligárquicos mais atrasados do Nordeste.
Na apresentação ontem de seu plano de metas no Memorial Juscelino Kubitschek, via-se outro FHC –ali estava o refinado sociólogo e senador antes de virar candidato. Utilizou-se do marketing para se fazer inspirar pela imagem de visionário de JK.
Mostrou-se conectado a uma visão contemporânea, distante pelo menos cem anos de Codó ou dos currais dominados pelo PFL. Teve a coragem de dizer que, caso eleito, seu governo apenas daria o passo inicial. O trabalho completo exigiria uma geração. É digno de nota num país habituado a promessas de paraíso na esquina.
Ele tocou na questão central para um salto de qualidade da nação. Insistiu na idéia de que a "educação é a base do novo estilo do desenvolvimento". Há, porém, duas questões práticas. O discurso pode ser bonito. Mas sem dizer quanto será gasto e de onde sai o dinheiro, não passa de um amontado de boas intenções.
Mais importante é saber quais tipos de concessões vai fazer FHC, aliado do que existe de pior na política brasileira. Ainda não é possível saber se suas alianças vão deixá-lo mais próximos de Codó ou do Memorial JK.
PS – Fernando Henrique sabe que muitos de seus importantes aliados só estão no topo da política porque não se investiu no que ele está prometendo como prioridade –a educação.

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