São Paulo, sexta-feira, 5 de agosto de 1994 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Pai de Rocha negocia compra
VICENTE DUARTE
Ele disse que só estava vendendo os bônus daquela forma porque o comprador era "simpatizante da idéia do imposto único". A negociação foi iniciada pelo coordenador financeiro do PL, Teófilo Furtado Neto. O negócio foi fechado nos escritórios das empresas Guararapes e Riachuelo (na Casa Verde, em São Paulo), das quais Nevaldo é sócio-majoritário. A Folha gravou a negociação com Teófilo e Nevaldo. Veja como foi fechado o negócio: A apresentaçãoÀs 18h20, a Folha entra na fábrica da Guararapes. O repórter apresenta-se ao vigia e recebe autorização para entrar. Diz que é da parte do sr. Francisco de Menezes. O vigia se dirige ao estacionamento ao lado, onde Teófilo está, e lhe comunica a presença do visitante. Começa a negociação. Vigia – Seu Teófilo, esse moço aqui quer falar com o sr.. Folha – Eu tô atrasado? Teófilo – Não. Folha – Como vai, tudo bom? Teófilo – Vamos até o escritório. Você é o Francisco? Folha – Não, eu sou o Vicente. Trabalho com o dr. Francisco. Teófilo – Você trouxe a relação das pessoas que vão receber os bônus? Folha – Não. Teófilo – O cheque é dele? Folha – Não, é meu. Eu sou uma pessoa que trabalha com ele. Mas não trabalho com ele nesse negócio de bônus. Ele só deu as instruções. Ele me disse para dar um cheque de R$ 70 mil e receber R$ 140 mil em bônus. O impasse Teófilo explica que, de acordo com a legislação, a venda dos bônus tinha que ser feita nominalmente. Disse precisar da lista com os nomes de quem iria recebê-los. Segundo Teófilo, a ausência de tal lista poderia dificultar a negociação. Decide fazer uma consulta. Teófilo leva o visitante até a Riachuelo, que ficava do outro lado do quarteirão, através de um corredor, que intercomunica as duas empresas. A Folha entra nos escritórios da Riachuelo. Teófilo apresenta o comprador à pessoa que fecharia a negociação dos bônus. Um sr. de cabelos brancos, usando terno cinza, gravata e óculos. Ao final da negociação, a Folha foi informada de que o negociador era o pai do candidato Flávio Rocha, Nevaldo Rocha. Depois de fazer diversas perguntas, Nevaldo aceita fechar o negócio. A Folha senta-se à mesa com Teófilo e Nevaldo. Nevaldo Rocha – Você vai fazer o cheque nominal à campanha Flávio Rocha e nós ficamos à disposição para ele (o comprador) fornecer os nomes. Sairia no seu nome. Folha – E não pode ser tudo no meu nome? Vai sair da minha conta mesmo... Nevaldo - É, faz tudo no nome dele. O cheque é especial? Folha – É especial. Se o sr. quiser consultar... Nevaldo (balança a cabeça negativamente) – Você tem preferência por bônus de 10, de 5, de 500? Porque isso tem múltiplos... Folha – Ele me falou pra pegar de menor valor. Nevaldo – Pra gente é indiferente. Folha – É, ele falou de 5 mesmo. Nevaldo (dirigindo-se a Teófilo) – Então pega de 5 pra ele. Folha (para Nevaldo) – O sr. tem uma caneta? O cheque é de 70 mil, né. O desfecho A Folha entrega o cheque a Nevaldo. Ele pede para Teófilo levá-lo ao local onde estavam os bônus. De carro, são levados até o escritório da Guararapes, para pegar os bônus em um cofre. O tesoureiro os entrega à Folha. Pede para que sejam conferidos. A Folha checa –são 28 bônus de R$ 5 mil. Depois, Teófilo entrega um cartão seu para o caso de haver algum problema posterior. Texto Anterior: Folha comprova ocorrência de fraude com bônus eleitoral do PL Próximo Texto: Rocha nega irregularidade Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |