São Paulo, sexta-feira, 5 de agosto de 1994 |
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Roteirista é 'outsider' literário
ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
Jim Harrison tem 56 anos. É o escritor dos grandes espaços, de um mundo rural opressivo, povoado por perdedores, bêbados, gente sem rumo, gente violenta. "Eu já tinha vivido bastante quando comecei a escrever", disse Harrison no ano passado, em entrevista à revista francesa "Les Inrockuptibles". Aos escritores urbanos, que desprezam o sentimento em favor da ironia, Harrison reserva veneno. "Autores como John Updike e Norman Mailer se parecem com club-sandwiches. Depois de engolir um pedaço, você se pergunta se será preciso comer o resto daquela porcaria", disse. A literatura de Harrison é movida a obsessões recorrentes. Coiotes ensanguentados. Ataques de ursos. Jovens lindas e mortas (um acidente de carro matou sua irmã de 19 anos). E a parte de trás dos joelhos das mulheres. Harrison tem uma enorme capacidade de prender o leitor com histórias que são quase nada. Seu romance "A Good Day to Die", por exemplo, fala de um poeta que encontra um casal na Flórida e os três decidem, sem motivo aparente, cruzar o país de carro para evitar a construção de um barragem no Arizona. É também para o Arizona que Harrison se mudou há pouco, depois de uma década isolado em sua fazenda no norte de Michigan. Ele vê com desconfiança Nova York e Los Angeles. Não frequenta o círculo literário. Não bajula editores. Seu grande amigo é o também escritor Tom McGuane, outro autor "regional". Hóspede por longo tempo na casa de McGuane em Key West (extremo sul dos EUA, Estado da Flórida), Harrison torrou milhares de dólares em anos de bebedeira e consumo cavalar de drogas. McGuane uma vez apostou com outro escritor, Hunter S. Thompson, quem conseguiria se drogar mais em uma noite. Perderia a aposta o que morresse primeiro. Ambos desmaiaram no meio da extravagância. Estão vivos. O primeiro romance de Harrison, publicado em 1971, também se chama "Wolf". Mas filme e livro nada têm a ver. Só há um livro de Jim Harrison lançado no Brasil, "Lendas de Outono" (editora 34). Não é o que ele fez de melhor, mas foi seu título de maior sucesso. A editora lançará outro romance de Harrison, "Dalva", até o fim do ano. Texto Anterior: Lobisomem sofre de ansiedade Próximo Texto: Guindaste; Balão; Ombrellone; Robison Crusoé; Professor Di Franco Índice |
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