São Paulo, domingo, 7 de agosto de 1994
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Empresários prevêem crescimento das vendas no segundo semestre

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

O medo da recessão está superado nos meios econômicos. Depois de um susto com a paralisia das vendas nas primeiros 20 dias de julho, a expectativa agora é de um segundo semestre melhor que o de 1993.
Os sinais de retomada apareceram nas duas últimas semanas. Eugenio Staub, presidente da Gradiente, conta que na primeira semana de agosto realizou metade da venda programada para todo o mês.
O presidente da Fenabrave (Federação dos Distribuidoras de Veículos), Sérgio Reze, conta que as vendas de julho, concentradas nos últimos dez dias, ficaram entre 115 e 120 mil unidades, "o que foi bom".
Economistas e consultores ouvidos pela Folha sustentam que os fatores de expansão do consumo são mais fortes do que as restrições impostas pelo Plano Real.
Com base em sondagens junto à indústria e comércio, o ex-ministro Mailson da Nóbrega espera um crescimento das vendas, neste segundo semestre, entre 5% e 10% sobre o mesmo período de 1993.
Para Eugenio Staub, o setor eletro-eletrônico mantém, para todo este ano, a previsão de um crescimento de 10% a 40%, conforme o produto.
O caso dos 40% é exceção. Trata-se de televisores, cujas vendas foram animadas pela Copa do Mundo. No geral, diz Staub, 1994 está bem resolvido. O negócio agora é pensar no médio prazo.
Para Reze, as vendas de veículos devem ser 20% superiores às do ano passado. Ele não acredita em falta de produto. Há capacidade ociosa de 30% a 50% em todas as linhas, exceto na produção de carros.
Mas mesmo neste caso, explica, as montadoras estão com programas de ampliação e vêm conseguindo sucessivos ganhos de produção nas atuais linhas. Como Staub, Reza espera um mercado tranquilo.
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Há ainda outros dois pontos em comum na avaliação de economistas e empresários. Primeiro, todos contam com crescimento, mas "moderado", "contido", "não explosivo" ou "'sem euforia".
Em segundo lugar, todos apontam uma forte recuperação de consumo nas chamadas camadas populares. As vendas nas lojas do centro de São Paulo e dos bairros afastados estão melhores do que nos shopping centers.
Este segundo ponto é um resultado direto da estabilização da economia. Com a queda brusca da inflação, as pessoas mais pobres, sem acesso às contas remuneradas nos bancos, têm um ganho imediato.
O dinheiro que levam no bolso não é mais uma moeda podre, mas mantém constante seu valor. Esse deixar de perder é um ganho substancial.
Segundo o economista José Roberto Mendonça de Barros, os salários mais baixos podem ter aí um ganho real de 12%. Na massa salarial, o ganho é de 6%.
Por outro lado, esse aumento de poder aquisitivo é limitado pelo fato de os salários serem baixos. Ou seja, a pessoa tem um ganho imediato, mas esgota rapidamente essa capacidade aquisitiva.
Daí a conclusão por um crescimento de vendas, mas moderado. O aquecimento, portanto, não deve ser ameaça à estabilidade do Plano Real.
As maiores ameaças ao Plano Real continuam localizadas dentro do governo. São as pressões generalizadas por aumento dos gastos públicos.

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