São Paulo, domingo, 7 de agosto de 1994
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O câmbio justo

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Como não existe almoço grátis, era comum dizer-se que todo país pagava uma conta aos exportadores.
Era o preço do dólar capaz de produzir um enorme superávit na balança comercial (exportações maiores do que as importações).
O dinheiro gerado pelo superávit era usado, posteriormente, para o pagamento dos encargos e juros da dívida externa.
O exportador fazia dólar e o vendia ao BC, recebendo o valor equivalente em moeda nacional. Depois, o BC vendia títulos ao mercado, pagando juros cavalares, para, justificava, "enxugar" o excesso de moeda nacional emitida.
A conta dos exportadores pesava de duas formas nos demais bolsos do país: 1) na relação câmbio/salários; 2) na conta de juros que o Tesouro pagava, com os impostos arrecadados.
A nova política de câmbio pode mexer nessa ciranda.
As importações devem crescer. O que é saudável. O ingresso de capitais pode crescer. E desde que seja capital produtivo, ninguém é contra.
Mas as exportações podem cair. Termina o consenso. A queda terá efeito recessivo.
Em nome do crescimento já se fala, tanto à direita como à esquerda, que a política de câmbio terá que ser alterada. Em algum momento, o BC deve entrar no mercado e restabelecer o valor justo do dólar.
Mas qual é, afinal, o valor justo do dólar? Aquele que aparece nas diversas contas com o nome de defasagem e que é o retrato acabado da relação mais escorchante já montada entre câmbio e salários em plena recessão de 1982?
Já disseram, não existe almoço grátis. Toda decisão de política econômica sempre elege alguém para pagar a conta. A decisão de quem paga a conta deve estar subordinada a algum projeto dito nacional.
Muita gente diz que o projeto que deve ser abraçado é o da modernização –palavra tão utilizada e por tanta gente que perdeu o conteúdo, como se modernizar fosse, por hipótese, apenas fazer exatamente o que se fazia na década de 1950, mas com menos gente.
Num país como o Brasil –que não é um tigre, embora selvagem– não há processo de modernização que perdure, que se torne permanente e sustentável, sem que se mexa na distribuição de renda.
Não há como distribuir renda forçando, via juros e taxa de câmbio, a concentração da mesma nos bolsos de sempre.
Hoje, excepcionalmente, deixamos de publicar a coluna de LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS.

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