São Paulo, domingo, 7 de agosto de 1994
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Por Jeff Gilles*

–Fale um pouco sobre sua infância.
–Eu cresci sem dinheiro. Meus pais faziam o que gostavam e não ganhavam bem. Éramos muitos filhos. Vivíamos sem eletridade, água corrente ou calefação. Toda semana, meu pai comprava meio litro de sorvete Hãagen-Dazs e esse era o nosso grande prêmio. Mas eles compensavam tudo com uma dose enorme de carinho e apoio. Não tenho do que me lamentar. Sou vista como uma pessoa rica e privilegiada. Eu sou, agora, mas nem sempre fui. Às vezes as pessoas pensam que nasci nas telas do cinema.
–Isso te ofende?
Ofende, me ofende... Não quero falar mal de ninguém, mas... Conheço muitos atores jovens que vivem em umas espeluncas, com os livros espalhados por todos os cantos e o colchão no chão. E eles são milionários! Tudo bem, é o jeito deles de viver, mas o fato é que eles fazem isto porque têm vergonha. Já conversei com alguns deles. Mas me dá vontade de dizer: "Não vivam assim só para mostrar o quanto vocês são de verdade, o quanto são profundos." Fico ofendida porque sei o que é estar na miséria, e não é uma coisa divertida, não é romântico, não é legal.
–Como você encara sua profissão?
–Durante muito tempo eu tive uma certa vergonha de ser atriz. Parecia-me uma ocupação superficial. Quando eu ia a um show com amigos de escola, as pessoas ficavam observando todos os meus movimentos. Me julgavam: "Olhe os sapatos dela! Devem ter custado US$ 400." Isso me afetava. A primeira vez que me senti orgulhosa de ser atriz foi em "A Época da Inocência". Ao mesmo tempo, o filme tornou as coisas difíceis para mim, porque nada se compara a ele.
–A revista "Premiére" publicou um artigo sobre as filmagens de "Drácula". O texto dizia que o diretor Francis Ford Coppola espicaçou você durante uma c

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