São Paulo, segunda-feira, 8 de agosto de 1994
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Dez mil pegam vírus da Aids a cada dia

LIZ HUNT
DO"THE INDEPENDENT"

A 10ª Conferência Internacional sobre Aids começou ontem em Yokohama, Japão, com uma nota pessimista.
A última análise da epidemia feita pela OMS (Organização Mundial de Saúde) mostra que a corrida para vencer o vírus causador da doença, o HIV, antes que ele infecte uma parte importante da população do planeta, já pode estar perdida. Entre 30 e 40 milhões de pessoas serão infectadas pelo ano 2000.
O número de casos estimados de Aids subiu 60% no último ano, atingindo quatro milhões, e o número de pessoas infectadas com o HIV está em 17 milhões.
Mais de três milhões desses casos são novas infecções, dos últimos doze meses, a um ritmo de cerca de dez mil por dia.
A África ao sul do Saara continua a ser o principal alvo da doença, mas no sudeste da Ásia, onde a infecção não era registrada até 1990-91, cerca de 100 mil pessoas têm Aids. "O fim da epidemia está muito longe", afirma a OMS.
Dez anos depois de o HIV ter sido primeiro identificado pelo francês Luc Montagnier no Instituto Pasteur de Paris, o ambiente é de pessimismo. Milhões foram gastos em pesquisa apenas para revelar a complexidade do vírus e de seus efeitos no sistema de defesa do organismo.
Uma cura ou uma vacina preventiva permanecem ilusões e questões fundamentais estão sem resposta. Por que algumas pessoas morrem logo após a infecção e outros sobrevivem por dez ou mais anos, e como podem alguns escapar a infecção apesar de rotineiramente expostos ao vírus?
Os cientistas acham que é iminente ter de repensar os enfoques de tratamento. A Coalizão de Política Global de Aids, localizada na Universidade Harvard, nos EUA, acredita que uma complacência se enraizou entre os políticos e o público dos países desenvolvidos quanto aos riscos do HIV.
Já os países do Terceiro Mundo não têm nem os recursos nem o conhecimento para lidar com o problema. Para a coalizão, a estratégia atual está obsoleta.
Na semana passada, pesquisadores britânicos previram que até um quarto das pessoas infectadas poderá sobreviver até 20 anos sem desenvolver Aids. A mudança mais significativa seria a aceitação da Aids como uma doença crônica, em contraste com a histeria inicial e as manchetes sugerindo que se tratava de um "castigo divino" para comportamentos pecaminosos.
Nos países como o Reino Unido a maior parte dos casos se refere a pessoas dos grupos de risco, como homossexuais masculinos e usuários de drogas injetáveis, mas os casos em heterossexuais –particularmente entre mulheres– tendem a crescer.
O Serviço de Laboratório de Saúde Pública tem dados que mostram que o ritmo de infecção em mulheres grávidas aumentou de uma em 560 para uma em 380, entre janeiro de 1990 e junho de 1993.

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