São Paulo, segunda-feira, 8 de agosto de 1994
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'Corte é comum', diz sindicato

SUSI AISSA
DA ENVIADA ESPECIAL A ARIQUEMES

O Sindicato da Indústria Madeireira de Ariquemes contesta as denúncias sobre mutilação de trabalhadores adolescentes nas empresas do setor do município.
"Isso tudo é invenção", afirma o presidente do sindicato, Eugênio Carniato, para quem as denúncias visam "denegrir a imagem" dos madeireiros.
Segundo Carniato, "são muito poucos os acidentes" nessas empresas. "Um corte ou outro no dedo é comum em madeireiras", afirma.
Carniato diz também que o Movimento dos Meninos de Rua denunciou as mutilações, mas não apresentou provas –no caso, os adolescentes mutilados.
Ele atribui à alta rotatividade da mão-de-obra no setor a demora dos madeireiros em registrar seus funcionários. "A gente espera um tempo para ver se o empregado vai ficar ou não na empresa", diz.
Segundo o madeireiro Luiz Carlos Kozerski, nos últimos 30 dias sua empresa anotou cinco casos de funcionários que trabalharam apenas um dia.
"Com essa rotatividade, não dá para registrar no primeiro dia", explicou Kozerski, que recentemente foi autuado pela Delegacia Regional do Trabalho por manter cinco empregados sem registro.
A empresa de Kozerski também foi autuada por ter em suas dependências máquinas e equipamentos sem dispositivos de segurança.
Foi em uma dessas serras que Evandro Ferreira Sodré, 19, perdeu os dedos indicador e anular da mão direita, em outubro de 1991.
Era seu primeiro emprego. "Fui contratado como ajudante, mas logo me colocaram para trabalhar como profissional", afirma Evandro, que atribui o acidente à falta de instrução para manusear a serra.
"Eu perdi os dedos porque estava usando luvas. Mas ninguém havia me dito antes que o uso de luvas naquela máquina era proibido", conta.
O ex-patrão de Evandro argumenta que ele foi negligente. "A culpa do acidente foi dele. Ele causou prejuízo para a empresa", afirma Kozerski, que espera ganhar na Justiça a ação movida contra sua empresa por Evandro.(SA)

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