São Paulo, quarta-feira, de dezembro de
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Ainda o real

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Enquanto Orestes Quércia não se apresenta, Lula e Fernando Henrique seguem brigando em torno do real.
O petista, que abriu seu primeiro dia no horário político afirmando o propósito de manter o plano real, agora está mais interessado em afirmar suas diferenças com ele.
Assim, o programa continua sendo chamado Brasil Real, mas sem nenhuma menção positiva ao plano. A idéia é que no programa "você vê o Brasil de verdade". Pobreza etc.
Lula surge como "o candidato do povo", em oposição ao "candidato da elite", ou Fernando Henrique.
Nas palavras do candidato petista, "quem não conhece os problemas na vida real, só na teoria, não vai encontrar soluções". Teoria, vida real, tudo é alusão a FHC.
FHC que anda menos preocupado com o seu oponente direto, mas que não descuida do real. Passou a semana toda, ontem também, comemorando um mês de preço fixo do pãozinho.
Mas o plano não está assim tão bem das pernas. A maior prova disso é a prioridade dada pelo próprio tucano para a saúde, área em que o real teve efeito destruidor.
O governo está dividido, quanto à saúde. O ministro da área pede mais dinheiro, não consegue e sai falando demais. Ontem, FHC tentava anular algum prejuízo de imagem.
Parecia um candidato de oposição. "Em 89, investimos em sáude 80 reais por habitante. Hoje chegamos ao absurdo de apenas 45. É óbvio que é preciso investir mais".
Teve até referência desairosa ao ministro, ainda que indiretamente: "De quantos ministros da Saúde você se lembra?" Não de Henrique Santillo. Mau sinal, a história.
Mau sinal para o plano real, que já andava com dificuldades, quanto ao salário. E vai fazendo água.
: Contra o real
Brizola, que não está morto na eleição, intuiu que chegou a hora de agir contra o real, na propaganda. Ontem, só falou de FHC e seu plano, ou da "armadilha":
– Ele renegou o seu passado, encantou-se com os salões do governo e do capitalismo e tornou-se um instrumento daqueles grupos que sempre dominaram e exploraram o Brasil.
Talvez Brizola ainda esteja mesmo nos anos 30, como espalha a assessoria tucana, mas ele parece ser o único candidato que ainda é capaz de agir por conta própria.
Quando atacava o real, ontem, estava indo contra o que determinam as pesquisas e o marketing político. Uma heresia eleitoral, hoje. Que o diga Lula –e seu apoio ao plano.

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