São Paulo, segunda-feira, 8 de agosto de 1994
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Geração do 'fico' desiste de sair do país

DA REPORTAGEM LOCAL

Vale a pena viver no Brasil? A questão retomou fôlego com a novela "Pátria Minha" (rede Globo), de Gilberto Braga.
A personagem Alice, uma garota de 17 anos vivida por Cláudia Abreu, aparece como símbolo da geração do "fico".
Ela é uma jovem que defende a idéia de ficar no Brasil. Quando sua mãe, desempregada, recebe uma oferta de trabalho em Londres, ela se anima com a possibilidade viver fora.
Mas essa idéia vai durar pouco. O destino de Alice deve ser mesmo ficar no Brasil.
A Folha procurou Cláudia por uma semana. Na última quinta, ela atendeu a reportagem, mas se recusou a dar entrevista.
Para Gilberto Braga, autor que também criou Heloísa, uma guerrilheira também interpretada por Cláudia Abreu na minissérie "Anos Rebeldes", as duas poderiam ser mãe e filha.
"Alice é uma jovem que desfruta de muita coisa positiva que gente como Heloísa e sua geração conquistaram." De semelhante, as gerações de Heloísa e Alice têm a vontade de mudar as coisas. De diferente, os métodos.
Enquanto Heloísa pegou em armas para mudar o mundo, Alice acredita que ajudar um grupo de sem-teto, terminar o colégio e brigar por Justiça já são grandes contribuições.
Como Alice, a geração do "fico" também quer fazer apenas o que está ao seu alcance para melhorar sua vida.
"Dizer que o país é uma droga, é besteira. Dá para fazer coisas legais aqui", diz Rogério Adelino, 18, aluno e economia.
A geração do "fico" não aceita o rótulo de alienada, mas também não abdica de seus projetos pessoais para "salvar o mundo".
"Me preocupo com o desenvolvimento do mundo", diz Rogério. Mas avisa que pretende contribuir como diplomata.
O objetivo dessa turma é que cada um faça a sua parte para melhorar as coisas. "Estou fazendo medicina. Se trabalhar direito, estarei ajudando", diz Frederico Neves, 19.
Para o sociólogo José Carlos Bruni, 54, o país vive um clima de otimismo ligado à queda da inflação, resultado dos primeiros efeitos do Plano Real.
A conquista do tetracampeonato seria outra causa. "A conquista aumenta a atmosfera de confiança."
A socióloga Lúcia Helena Gama diz não ver a onda de otimismo. "O que se vê é pessimismo. Pode haver vontade de acreditar, mas é localizada."

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