São Paulo, segunda-feira, 8 de agosto de 1994
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China freia 'bomba demográfica'

JAIME SPITZCOVSKY
DE PEQUIM

A China, o país mais populoso do planeta, recolhe resultados positivos em sua política para frear o crescimento demográfico.
Em 1993, registrou a mais baixa taxa de natalidade desde 1961.
A partir do final dos anos 70, o Partido Comunista deslanchou campanha para "controlar o crescimento da população e elevar a qualidade de vida do povo".
Nas cidades, o objetivo é conseguir a média de um filho por casal e no campo, dois.
O PC conta com um exército de 55 milhões de voluntários engajados em distribuir a propaganda governamental. A campanha agita ainda outro lema: "casar mais tarde e nascer mais tarde".
Autorização
Organizações feministas ocidentais acusam funcionários do governo chinês de forçarem abortos ou esterilizações. Pequim rebate e diz que a campanha é "educativa".
"Há até mesmo casais nas cidades que conseguem autorização para ter o segundo filho", explica à Folha Jiang Yiman, chefe de propaganda do Comitê Estatal de Planejamento Familiar.
Mas quem aumenta a família sem autorização enfrenta problemas. "Vai ter que pagar por serviços sociais que normalmente são gratuitos, como creches", explica Jiang Yiman. "E cada cidade tem autonomia para implantar uma política própria".
A China abriga 22% da população mundial e concentra apenas 7% da área cultivável do planeta.
"O rápido crescimento populacional levou a reduções drásticas das terras para agricultura, a superexploração dos recursos naturais e aumentou a poluição do meio-ambiente", declarou em março passado Peng Yu, vice-diretora do Comitê Estatal.
Já Peng Peiyun, ministra do Planejamento Familiar e uma mãe com quatro filhos, afirmou que os resultados positivos do ano passado não vão levar o governo a afrouxar a campanha educativa.
Entre as armas, estão o aborto e a distribuição gratuita de preservativos e pílulas anticoncepcionais.
No ano passado, quando sua economia cresceu 13%, a China teve uma taxa de natalidade de 19 por 1.000 e uma média de 1,9 filho por casal, cifra que o governo pretende manter até o ano 2000.
No fim da década de 80, o país registrava 2,5 filhos por mãe. "Estamos entrando na economia socialista de mercado e as pessoas querem enriquecer", diz Jiang Yiman.
"E até mesmo no meio rural, onde vive 80% da população, as pessoas já começam a entender graças a nossa campanha que é preciso conter o crescimento".
Hoje empenhado em implantar a economia de mercado e frear o número de nascimentos, o PC estimulou o crescimento populacional após chegar ao poder, em 1949.
Acreditava fortalecer o país. Mas 30 anos depois, Pequim preferiu maquinar a política "um casal, um filho", a fim de priorizar o crescimento econômico.
Durante a Revolução Industrial, a partir do século 18, a Europa usou a América como uma nova fronteira para absorver a população em crescimento.
Pequim argumenta não contar com outros espaços para assentar seus habitantes. "A população da China deve viver dentro de nossas fronteiras", afirma Peng Yu.
Em 1979, o então dirigente chinês Deng Xiaoping ironizou as reclamações do presidente norte-americano, Jimmy Carter, sobre a falta de liberdade para os chineses deixarem o país.
A Casa Branca seguia a política de proteção dos direitos humanos e pressionava regimes comunistas.
Ao ouvir as opiniões de Washington sobre a necessidade de liberalizar a emigração, Deng perguntou: "Então quantos milhões (de chineses) o senhor quer?"
Os chineses que buscam atualmente imigrar esbarram nos custos altos da viagem e nas dificuldades para obter um visto de entrada.

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