São Paulo, terça-feira, 9 de agosto de 1994
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Camelô saqueia e destrói loja no Rio

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Saques, agressões, apedrejamentos e depredações marcaram ontem o protesto de cerca de mil camelôs contra o projeto da Prefeitura do Rio de retirá-los das ruas do centro. Até as 17h30, a polícia contabilizava 11 detidos.
Dois dos 11 detidos foram autuados e liberados com pagamento de fiança. O repórter da Folha Roberto Machado e o fotógrafo de "O Dia" Domingos Peixoto foram atingidos por pedras. Machado levou cinco pontos na cabeça e Peixoto teve ferimentos leves. Três PMs também ficaram feridos.
O comércio na zona central do Rio praticamente não funcionou de manhã e à tarde. Os camelôs impediram que as lojas abrissem as portas.
Os comerciantes que desobedeceram a determinação tiveram prejuízos. Dezenas de lojas tiveram vidraças destruídas e mercadorias roubadas por supostos camelôs.
A avaliação de que mil pessoas participaram dos conflitos é da PM (Polícia Militar).
A prefeitura planeja instalar os camelôs em terrenos cedidos pela Companhia do Metrô e pela Light –estatal de fornecimento de energia– nos quarteirões formados pela avenida presidente Vargas e ruas Uruguaiana, da Alfândega e Buenos Aires.
Por não aceitar a transferência, os camelôs decidiram tumultuar o centro quando foram impedidos, de manhã cedo, de instalar tabuleiros de produtos nos pontos onde costumam trabalhar.
Uma assembléia improvisada aconteceu na esquina das ruas Uruguaiana e Buenos Aires. Grupos de cerca de 50 pessoas saíram pelo centro, a partir das 9h30, decididos a fechar o comércio.
Houve depredações e saques nas avenidas Marechal Floriano, Rio Branco e Presidente Vargas, onde um policial militar, acuado por manifestantes, disparou tiros para o alto.
Um segundo tiroteio ocorreu na rua Gonçalves Dias. Novamente um PM, temendo ser linchado, atirou para cima a fim de dispersar a multidão que o cercava.
Na rua São José, 50 homens, com os rostos cobertos por máscaras e armados com pedaços de madeira, determinaram às 10h o imediato fechamento do comércio.
No mesmo horário, um grupo invadiu a padaria Nova Carioca (rua da Carioca), saqueou mercadorias, roubou o dinheiro do caixa, destruiu vidraças e agrediu empregados. Um deles foi jogado por saqueadores em cima de uma porta de vidro.
Lanchonetes, livrarias e butiques não escaparam dos vândalos. Até a loja Bandeira Vermelha (praça Tiradentes), de roupas íntimas, foi atacada.
Mulheres e homens a invadiram e roubaram calcinhas e sutiãs, distribuídos mais à frente como uma espécie de "brinde de vitória", expressão gritada por um saqueador.
A confusão teve um breve intervalo entre 12h30 e 14h, quando uma comissão de camelôs conseguiu de representantes da prefeitura e da PM a promessa de que o trabalho estaria liberado à tarde.
Como o acordo não incluía a rua Uruguaiana –tradicional ponto de vendas de equipamentos contrabandeados–, os tumultos logo recomeçaram, mas sem quebra-quebra. A nova ordem era impedir que as lojas abrissem, mas que se evitassem as depredações.

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