São Paulo, sexta-feira, 12 de agosto de 1994
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Segunda-feira, sangrenta segunda-feira

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

A última segunda-feira foi marcada por episódios extraordinários. Vejamos: deu no "Jornal Nacional" que, depois de verificar que seus vencimentos do mês somavam R$ 190, um soldado da PM de Taubaté tomou seu comandante como refém. Desarmado por colegas, o PM acabou sendo encaminhado a uma clínica psiquiátrica (por mim, o bom homem deveria ter sido designado a integrar a cúpula da equipe econômica do governo).
Enquanto isso, em Vila Natal, bairro da zona sul de São Paulo, surgiu uma nova modalidade de abuso sexual. O pedreiro Gilberto Santos, 24, foi assassinado a tiros pelos vizinhos, acusado de estuprar cadelas. Segundo testemunhas, Santos passou a violentar a cachorrada da vizinhança depois que sua mulher o deixou, há três meses. "No comments", como diria o expert Michael Jackson.
Na mesma dramática segundona, o "Diário Oficial" publicou uma portaria da Secretaria da Vigilância Sanitária que aumenta a quantidade de insetos presentes na farinha e derivados, como pães, doces, massas, biscoitos e coxinhas com osso.
Eu explico: antes, eram permitidos 30 fragmentos microscópicos de insetos a cada cem gramas de farinha. Agora, segundo a nova lei, esse número aumentou para 75 fragmentos a cada 50 gramas. Ou seja, a quantidade de nacos de inseto quintuplicou.
A lei surge para ampliar os horizontes do gourmet tapuia. Em vez de se limitar ao enfadonho macarrão alle vongole, ele agora degustará, de lambuja, o macarrão alla mosca-varejeira. E, em vez de se ater a insossas bombas de chocolate, o gourmet tapuia tem a oportunidade de traçar bombas de vísceras de barata.
Digamos que, diariamente, você coma um pãozinho no café da manhã. Com a nova lei, ao final de um mês, você terá ingerido 30 pães e uma barata. Inteira. Com anteninhas, perninhas e o escambau.
Trata-se do bônus barata, uma cortesia do Ministério da Saúde.
Atenção, leitor de estômago sensível! Pense no lado bom. A partir de hoje, não é só seu intestino que está sendo feito de gato e sapato. Tanto as famílias dos produtores de farinha, quanto a família do ministro da Saúde, Henrique Santillo, todos, enfim, estarão digerindo cinco vezes mais insetos do que antes.

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