São Paulo, sexta-feira, 12 de agosto de 1994
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MEU AMIGO MONTEIRO LOBATO

RUBENS RICUPERO
ESPECIAL PARA A FOLHINHA

Deixo de lado amanhã o meu trabalho como ministro da Fazenda, para ir a São Paulo homenagear Monteiro Lobato, visitando a biblioteca que é dedicada a ele.
Cada vez que eu me lembro do "Sítio do Pica-Pau Amarelo" e de todos aqueles personagens que povoaram a minha infância –Dona Benta, Narizinho, Pedrinho, Tia Nastácia, a Emília, o Visconde de Sabugosa, Rabicó–, sinto uma saudade enorme, uma vontade de voltar a ser criança.
E é bom saber que, em parte, basta abrir um livro –"Caçadas de Pedrinho", "Reinações de Narizinho", "O Poço do Visconde" e tantos outros– para aquele tempo voltar com toda força.
Eu devo muito a Monteiro Lobato. O primeiro livro que eu li foi "A Chave do Tamanho". Acho que tudo que li depois, com tanto gosto –e não foi pouco–, devo a essa primeira descoberta. Perdi a conta de quantas vezes eu reli cada livro. Quantas horas eu me desliguei do mundo para ir viver todas aquelas aventuras no Sítio, descobrindo e redescobrindo um mundo maravilhoso de idéias, histórias, ensinamentos, confusões, trapalhadas, artes de criança.
Ler Monteiro Lobato é sentir um pouco mais o gosto de ser brasileiro, de conhecer da forma mais saborosa uma parte daquilo que nós somos –aquele Brasil do campo, das pessoas simples do interior, das crianças que vão descobrindo o mundo, a natureza, a história, a geografia e a ciência.
Hoje, dizem (às vezes) que Monteiro Lobato já não é tão lido como devia. Não sei se é verdade, mas espero que não seja. Nenhuma criança devia deixar de conhecer o mundo de Monteiro Lobato. É a melhor forma de aprender a gostar de ler, de abrir os olhos para a boa literatura, para as boas histórias que tanta falta fazem à gente.
Eu não exagero ao dizer que tudo o que eu consegui na vida, em matéria de conhecimento, devo em grande parte a Monteiro Lobato. Quando ele morreu, em 1948, eu era pequeno, tinha uns dez anos e não o conhecia pessoalmente, claro. Mas lembro bem de ter ido ao seu velório e ao seu enterro, onde escutei todos os discursos emocionados que fizeram para ele.
Era uma forma de dizer-lhe adeus. Um adeus comovido e anônimo de menino que tinha certeza de que seu amigo Monteiro Lobato, que tantas alegrias tinha deixado nas páginas dos livros, ia viver para sempre na minha lembrança ao longo da minha vida.

BIBLIOTECA MONTEIRO LOBATO - rua General Jardim, 485, tel. 256-4122. Aberta para o público de segunda a sexta, das 7h30 às 18h50, e aos sábados, das 9h às 17h.

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