São Paulo, sexta-feira, 12 de agosto de 1994
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'Barrela' adapta Plínio Marcos com correção

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

Filme: Barrela
Produção: Brasil, 1990
Direção: Marco Antônio Cury
Elenco: Cláudio Mamberti, Paulo César Pereio, Marcos Palmeira
Onde: a partir de hoje no Espaço Banco Nacional de Cinema/sala 3

No fim do governo militar, abriram-se as célebres gavetas com peças, músicas, filmes e livros censurados. Quando foi-se ver, não havia grande coisa. Agora, começam a se abrir o que se poderia chamar de "as gavetas da Embrafilme": filmes produzidos pela companhia antes de ser extinta (em 1990), que acabaram mofando por falta de distribuição.
Desta vez, não se esperava nada. Mas as surpresas começam a aparecer. Após "O Beijo" (ainda em cartaz no Cinesesc), chega "Barrela", adaptação da peça de Plínio Marcos sobre um grupo de presidiários e a conflitiva noite que passam em uma cela.
É um filme que, em 1990, tinha um sentido claro: fazer da modéstia e do baixo orçamento os suportes de um espetáculo "médio". Médio, quer dizer, capaz de se comunicar com um público amplo e manter a dignidade.
O texto, no caso, é uma garantia. Ao contrário da imensa maioria dos filmes brasileiros, ele nos priva de diálogos ora artificiais, ora dispensáveis, ora francamente infantis. O resto corre por conta de um cuidado com a correção própria de montadores, quando chegam à direção (Cury tem um extenso currículo como montador).
Desse cuidado talvez faça parte a idéia de chamar Cláudio Mamberti para o papel principal, o de Portuga. Ele é o presidiário que acorda os companheiros de cela com seus terríveis pesadelos.
Uma vez despertos, eles entregam-se a um jogo de crueldade próprio dos relacionamentos estabelecidos em espaços fechados. Mamberti segura o papel de Portuga e parece servir de guia aos outros atores (exceto Pereio).
Apesar da situação teatral, o filme se aguenta bem. Sai um pouco dos trilhos, perdendo ritmo e clima, quando entram alguns monólogos: a continuidade dramática e espacial se rompe nesses instantes.
Entre virtudes e limitações, "Barrela" é um filme perfeitamente visível: seguro e sem batatadas, sem grandes pretensões e nenhum defeito imperdoável.
Seu grande problema coincide com sua principal virtude. Foi concebido num tempo em que se procurava fixar um "cinema médio" brasileiro. Isso não existe mais: hoje, qualquer filme brasileiro é uma exceção que precisa criar seu público.(Inácio Araujo)

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