São Paulo, sexta-feira, 12 de agosto de 1994
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'Velocidade Máxima' só agita os hormônios

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DE CINEMA

Filme: Velocidade Máxima (Speed)
Produção: EUA, 1994
Direção: Jan De Bont
Elenco: Keanu Reeves, Dennis Hopper, Sandra Bulloch
Onde: a partir de hoje nos cines Astor, Top Cine, Ibirapuera 1 e circuito

"Velocidade Máxima" é um filme que começa por sua fama: foi um sucesso avassalador nos EUA, tem ação do começo ao fim, é um "Duro de Matar" sobre rodas (passa-se no interior de um ônibus). Esses ecos que chegam ao Brasil logo se traduzem na frase que a publicidade da Fox explora e logo o público reproduz: "É adrenalina pura".
Não deixa de ser uma verdade. Afinal, "Velocidade Máxima" é o que se pode chamar de cinema hormonal, que procura produzir efeitos físicos no espectador pela sucessão de acontecimentos.
A saber, do momento em que o ônibus atinge 50 milhas por hora (cerca de 80 km), a bomba é ativada. Explodirá caso o ônibus ande numa velocidade inferior a esta.
É claro, no meio haverá congestionamentos e semáforos em número suficiente para garantir pilhas de trombadas, carros destruídos e emoção.
Mas há também Keanu Reeves. Agora, ele e Hopper travam um "duelo intelectual". O vilão quer vencer o policial a todo custo. E este, no interior do ônibus, só pensa em salvar os passageiros.
O filme não engana ninguém: peripécias se sucedem, numa espiral acrobática que parece não ter fim. Os fãs desse tipo de filme de ação não têm do que reclamar: poderão gritar, suar frio e até aplaudir no meio das sessões, quando o herói se dá bem.
Mas, qual a relação que o filme estabelece entre os personagens e os atores? Nenhuma, a rigor. Tanto o herói, como o vilão ou a heroína (Sandra Bullock) são figuras que estão lá para desempenhar seus papéis: serem heróis, vilões, heroínas.
Onde se lê "ação", portanto, pode-se muito bem ler "tautologia". A ação que corre na tela nada move, apenas confirma e reafirma os dados iniciais. Nesse sentido, "Speed" pode ser mais entediante do que um sub-Bergman.
Pode-se dizer que tudo isso não passa de má vontade com uma categoria de filmes. Em parte está certo. Mas pode-se buscar perto daí exemplos que vão em outra direção. "Batman" é tão filme de aventuras quanto "Velocidade Máxima", trabalha da mesma forma uma estética das histórias em quadrinhos.
OK. Só que, onde aqui tudo parece obedecer a um mecanismo, em "Batman" (o primeiro e o segundo) percebe-se um investimento artístico, uma busca de originalidade, de fuga ao convencional (mesmo se o ponto de partida é um clichê, derivado da HQ).
Nada impede à aventura de ser mirabolante, de conter lances espetaculares. É até desejável, em certos casos. Quando o cinema conforma-se, porém, em ser apenas isso, não informa e nem forma o espectador. Produz, no máximo, efeitos no metabolismo.
Para completar: o filme é todo picotado, todo "coberto" (para falar dessa prática do cinema que consiste em filmar a ação de vários ângulos e depois, na hora da montagem, escolher um deles). Mesmo como filme de montador é insatisfatório (os protagonistas das ações paralelas às vezes somem por minutos e minutos). Ou, em poucas palavras: toda a audácia da história corre por conta de Keanu Reeves, o heróico herói; para o diretor De Bont sobra pouco.

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