São Paulo, segunda-feira, 15 de agosto de 1994
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Futebol, vôlei e prêmio Nobel

JOSÉ ROBERTO DRUGOWICH DE FELÍCIO

Mesmo constrangido pelo sentimento de culpa que tentam nos impor –uns porque se lembram do uso político do tri pelo governo militar, outros porque acham que o título pode ajudar FHC nas eleições– não consigo deixar de me sentir feliz com a conquista do tetracampeonato.
Em um país como o nosso, acostumado às derrotas no dia-a-dia, as pessoas ficam desconfiadas quando não há motivo para sofrer. A hipótese de "armação" vem às cabeças e a alegria se transforma em crise.
Mas em momentos como esse uma questão antiga volta a me intrigar: qual é o efeito dessas grandes vitórias sobre o comportamento das pessoas?
Embora não conheça nenhum estudo rigoroso sobre o assunto tenho cá minhas convicções. Não acho que seja coincidência o fato de encontrarmos sempre brasileiros na Fórmula-1.
É impossível negar que as vitórias de Emerson despertaram enorme interesse pelo automobilismo. Garotos acreditaram que aquela era uma atividade gratificante e acessível. O Brasil conquistou oito dos 22 campeonatos desde então.
O vôlei é outro exemplo. A rapaziada já ganhou as Olimpíadas, o campeonato da Liga e continua disputando todas. Coincidência? Não.
A experiência da geração de Moreno e a medalha de prata em Los Angeles podem explicar boa parte do sucesso de Tande, Marcelo Negrão, Maurício e companhia.
Todo esse sucesso vem acompanhado de alto e continuado investimento, confirmando o que não é novidade: mais dinheiro, mais resultados...
A ciência no Brasil vive um clima totalmente diferente. Lutando com muita dificuldade e competindo em cenário cada vez mais adverso, os pesquisadores brasileiros parecem estar esgotando o seu estoque de boa vontade e dedicação.
Há anos o setor não consegue carrear mais do que 0,7% do PIB nacional e boa parte desses recursos é dedicada à formação de pessoal. Curioso é que aqui ou no exterior os estudantes brasileiros mostram que têm potencial para superar os obstáculos iniciais da carreira.
Passada essa fase, porém, a desaceleração é brusca e muitas vezes definitiva. Falta de verbas, de emprego, de infra-estrutura ou mesmo de ambiente propício para o desenvolvimento do trabalho de investigação concorrem para explicar o desânimo que se instalou nas instituições de ensino e pesquisa.
O remédio talvez seja ganhar o prêmio Nobel. Quem sabe assim o governo, a sociedade e os próprios cientistas voltem a acreditar na ciência brasileira.

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