São Paulo, terça-feira, 16 de agosto de 1994
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Lideranças criticam plano da safra 95

SUZANA BARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Na avaliação das lideranças agrícolas, o plano de safra anunciado na semana passada não deve trazer o aumento de produção pretendido pelo governo.
Com o plano, o governo estima que a área plantada das principais culturas deva crescer 6,4% e que a produção aumente 10% em relação a última colheita, que ficou próxima dos 75 milhões de toneladas de grãos.
"O plano de safra é menor do que o necessário para uma colheita superior a 80 milhões de toneladas", diz Roberto Rodrigues, presidente do Conselho de Cooperativas das Américas e ex-secretário da Agricultura de São Paulo.
O principal limitador da produção para o setor é a falta de compensações financeiras que diluam o peso da defasagem cambial (na semana passada, a diferença entre dólar e real chegou a 12%) e da TR (Taxa Referencial).
Para manter a coerência com o Plano Real, o governo manteve a TR mais juros de 11,5% para médios e grandes produtores e subsidiou, em 50% da TR mais juros de 6%, os pequenos.
Nelson Costa, chefe do Departamento de Economia da Ocepar (Organização das Cooperativas do Paraná), diz que a manutenção da TR anula todos os efeitos positivos do pacote agrícola.
Como positivos, ele aponta os incentivos aos mini e pequenos produtores. Para os miniprodutores, os juros serão de 6% ao ano, sem TR, como adiantou a Folha.
O pacote agrícola lançou, lembra Costa, o Programa de Valorização da Pequena Produção Rural (Provape) para incentivar a fixação dos agricultores no campo. Aqui, o financiamento é de 4% ao ano, sem TR.
Pedro Camargo Neto, presidente da Sociedade Rural Brasileira, afirma que o governo perdeu a oportunidade de oferecer políticas compensatórias para modernizar a agricultura.
Como exemplo, ele afirma que subsidiar o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadoria e Serviço) na exportação da soja seria melhor do que subsidiar os juros e a equivalência-produto.
"Com o ICMS, o produto perde competitividade internacional", diz ele.
Fernando Homem de Melo, economista da Universidade de São Paulo, diz que o crédito continua caro para o agricultor. Para ele, 11,5% de juro é um desestímulo.
"O setor deveria ter brigado para diminuir os juros e não para tirar a TR", diz o economista.
Melo diz que crédito barato é um estímulo ao pequeno produtor, mas que este não é o responsável pelo aumento da produção.(SB)

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