São Paulo, terça-feira, 16 de agosto de 1994
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O negócio secou

JANIO DE FREITAS

O polêmico projeto de irrigação do Nordeste com águas do rio São Francisco, que seria a única obra de vulto lançada pelo atual governo, foi suspenso pelo presidente Itamar Franco, com um simples recado ao ministro do Desenvolvimento Regional na sexta-feira: "Diga ao Aluizio (Alves) para suspender tudo da obra do São Francisco".
Com a obra estimada em US$ 2 bilhões, o projeto já entrava em fase de concorrência pública. Aluizio Alves e seu principal coadjuvante na organização da concorrência – Villar de Queiroz, um dos mais discutidos assessores da Fazenda no regime militar – pretendiam que até o final do ano (e do governo) fossem investidos US$ 300 milhões na obra, mesmo inexistindo a respectiva verba orçamentária, exigida por lei. O PT já providenciara um pedido judicial de anulação da concorrência.
Quando o presidente deu sinal verde, há duas semanas Fernando Henrique manifestou-se publicamente contrário. Na quinta-feira, em vista do mal-estar criado pela crítica em suas relações com o presidente, Fernando Henrique transformou-se em defensor público da obra. Na sexta, Itamar suspendeu-a. Nada como o entrosamento.
Dinheiro inútil
Toda privatização tem sido assunto insistente e gratuito no noticiário de todos os jornais. Já por aí não precisaria o governo gastar dinheiro para divulgá-la. Como negócio, cada privatização interessa um número mínimo de pessoas muito bem informadas sobre todos os aspectos da pretendida transação. Também para dotá-las de informações, portanto, não precisaria o governo gastar dinheiro em divulgação, por mínimo que fosse.
Apesar disso, desde aqueles primeiros filmecos que exploravam a figura de um elefante, foram gastos dezenas de milhões de dólares em publicidade inútil de privatizações. E agora jornais noticiam que o BNDES está abrindo concorrência para mais uma série de anúncios, no montante de US$ 11 milhões. Dinheiro suficiente para financiar (o que implica retorno do dinheiro e juros) mais de cem projetos promissores de pequenas e médias empresas.
É impossível não considerar muito esquisitos esses altos gastos em publicidade inútil. Sobretudo considerando-se que só em comissão, e só no caso da nova concorrência, o BNDES dará US$ 2,2 milhões à agência a ser escolhida.
A César
A repórter Edna Dantas e eu fomos objeto, há três meses, de exaltada acusação de Fernando Henrique, que dizia termos suprimido, por má-fé, a palavra "apenas" em sua suposta frase "o povo não quer (dos candidatos) apenas boas intenções". Não adiantou lembrá-lo de que falara para gravadores. Na sua entrevista à Folha de domingo, volta a acusar-nos de "má-fé pura". E, no entanto, reconhece: "É claro que na hora eu não falei o apenas".
Como se vê, é uma questão pequena. É apenas da localização da má-fé. Puríssima.

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