São Paulo, terça-feira, 16 de agosto de 1994
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O futebol jamais vai ser como o basquete

UBIRATAN BRASIL
DA REPORTAGEM LOCAL

O Campeonato Paulista do próximo ano vai mostrar como o interesse da televisão em transmitir jogos pode ser perigoso.
A última reunião do Conselho Arbitral, em que participam representantes de todos os clubes, aprovou uma série de mudanças no regulamento do torneio.
A mais cortante aponta uma parada de três minutos na metade de cada tempo.
Assim, quando o cronômetro do árbitro chegar aos 22 minutos, ele interrompe a partida para um descanso, que vai se estender até o minuto 25.
Esse período é justificado como uma pausa para que os treinadores possam acertar possíveis problemas.
Na verdade, o respiro vai mesmo para as emissoras de TV, que vão liberar as imagens de comerciais. Como no basquete, o futebol passa a ter quatro tempos.
Só que, se resolve um problema (e não estou tão certo disso), cria outro, muito pior. O futebol é muito criticado por ser um esporte que pouco muda suas regras, consideradas rígidas demais.
Alterações como essa, porém, mexem no espírito do esporte. Ao contrário do basquete, o futebol tem um ritmo mais cadenciado. Suas jogadas exigem um tempo de elaboração indefinido –tanto podemos ter uma partida alucinante, que já comece com ataques rápidos dos dois times, como um período mais espaçado, em que os adversários se observam e estudam uma tática mais eficiente.
Assim, o incentivo que normalmente proporciona, por exemplo, uma bola na trave, pode esmorecer se acontecer no minuto 21. Afinal, dois minutos depois o árbitro vai interromper o jogo e facilitar para o time que estiver acuado.
No reinício, é provável que as forças estejam novamente equilibradas e o jogo volte a ser bocejante.
A parada vai facilitar também as equipes e os treinadores que apostam em táticas defensivas, porque o jogo vai ter vários ciclos, que sempre vão começar de maneira morosa. Nada melhor para os que vibram com o mísero ponto conquistado com um empate sem gols.
Os interesses da televisão são importantes, mas jamais podem mexer nas entranhas do esporte. Na Itália, por exemplo, uma solução ótima foi encontrada. A cada saída de bola, um anúncio é veiculado, com duração máxima de cinco segundos. Como a quantidade de cobranças de lateral, tiro-de-meta e escanteio é enorme, a possibilidade se ter janelas publicitárias também é generosa.
Esse artifício já é utilizado na Fórmula 1, em que os patrocinadores são anunciados em diversos momentos de cada corrida, sem interromper a transmissão.
A importância do ritmo em uma partida de futebol foi valorizada durante a Copa do Mundo, nos Estados Unidos.
As emissoras de televisão fizeram uma simpática campanha para adiar a fuga dos espectadores atrás de bebida e comida. Acostumados a paradas publicitárias estratégicas, os torcedores americanos não conseguem ficar mais que 20 minutos presos na cadeira.
A campanha mostrava a quantidade de gols que o torcedor teria perdido se tivesse levantado na metade de cada um dos dois tempos. A mesma mensagem era passada também àqueles que estavam no estádio, acostumados a visitar o bar mesmo com o jogo em andamento.
O futebol deve evoluir, mas buscando sempre aprimorar detalhes. Como o recuo de bola ao goleiro, que só pode receber com os pés. Ou a linha de impedimento, que favorece agora o atacante.
O ritmo não foi alterado –melhor, conseguiu mais vibração.

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