São Paulo, quarta-feira, de dezembro de
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Aristocratas do dinheiro público

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Os sindicatos dos servidores federais do Legislativo e do Judiciário anunciaram ontem que se preparam para uma batalha. Desconfiam que os militares vão receber aumento disfarçado na proposta de isonomia salarial apresentada pelo presidente Itamar Franco –prometem greves e ações na Justiça.
Em entrevista à repórter Raquel Ulhôa, da Folha, o presidente do Sindicato dos Servidores do Legislativo, Roberto Vieira, não escondeu uma curiosa torcida. Confessou: torce que Itamar Franco dê um aumento irregular aos militares.
Seu argumento: "Se isso acontecer, o governo vai estar abrindo um precedente para reivindicarmos o mesmo reajuste". Daí se vê como pensa e age a aristocracia do funcionalismo público –eles ainda têm a coragem de se apresentar como "vítimas".
Basta apenas lembrar reportagem publicada sábado passado nesta Folha, baseada em documentos do Ministério da Previdência. Os funcionários do Legislativo e Judiciário têm uma aposentadoria média de R$ 2.500,00. Por aí se vê seus salários.
Eles ganham mais do que um salário integral, depois de gozarem de segurança da estabilidade no emprego –e de apresentarem produtividade no mínimo discutível. Recebem um adicional de 20%.
Sua aposentadoria é "só" 20 vezes maior do que recebem em média os 15 milhões de "beneficiários" do INSS: 1,8 salário mínimo. Coloquei beneficiário entre aspas porque esse valor não merece ter relação com a palavra benefício. Trata-se quase de um malefício.
Devido aos privilégios alcançados pelo funcionalismo com suas aposentadorias especiais, estamos sentados numa bomba-relógio. A Folha divulga hoje que 60% das despesas de pessoal das Forças Armadas já são drenadas não para ativa, mas por pensões e aposentadorias.
PS – A propósito do funcionalismo, insisto: o dia em que a nação se guiar pela prioridade na educação, a maior das prioridades, Estados e municípios vão fazer uma rapa cívica nas repartições. Com o dinheiro economizado conseguiriam valorizar a correia de transmissão da cidadania: o professor de ensino básico, a grande vítima da ignorância nacional e da demagogia dos candidatos.

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