São Paulo, sábado, 20 de agosto de 1994
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Para governo, as cartelas de telebingos são regulares

FERNANDO RODRIGUES
DA REPORTAGEM LOCAL

O órgão governamental que regula os bingos televisivos disse ontem que não vê irregularidade no Papa-Tudo e na Tele-Sena.
A Folha revelou em sua edição de ontem que é possível identificar, sem quebrar o lacre, todas as cartelas premiadas desses telebingos. Basta olhar para o papel contra um facho de luz.
O órgão responsável pelo mercado de telebingos é a Susep (Superintendência de Seguros Privados), uma autarquia federal subordinanda ao Ministério da Fazenda.
"Compramos o título para verificar, levei para casa e não enxerguei nada", disse ontem Vera Melo Araújo, chefe do Departamento de Fiscalização da Susep.
Segundo Araújo, não será tomada qualquer providência contra os administradores do Papa-Tudo e da Tele-Sena.
"A não ser que você faça uma denúncia por escrito e prove que está vendo", disse a funcionária da Susep para o repórter da Folha.
O Papa-Tudo é propriedade do empresário Artur Falk (Banco Interunion). A Tele-Sena é do apresentador de TV e empresário Silvio Santos.
Embora evite comentar o assunto em público, Falk diz reservadamente que teria um acordo pessoal com Roberto Marinho, presidente das Organizações Globo.
O suposto acordo permitiria a Falk veicular propaganda, em condições privilegiadas, na Rede Globo. A emissora nega esta versão.
Os representantes do Papa-Tudo e da Tele-Sena admitem que os produtos têm defeito. Mas dizem que não há o que fazer.
A utilização de um papel mais grosso e uma tinta mais espessa na impressão das cartelas tornaria o negócio não-lucrativo.
São impressos 37 milhões de cartelas por mês: 12 milhões de Papa-Tudo e 25 milhões de Tele-Sena a R$ 1,00 cada.
O custo de impressão, marketing e distribuição varia de R$ 0,40 a R$ 0,50 por cartela. O resto fica com os administradores.
O risco maior de fraude é algum vendedor dos telebingos verificar quais cartelas estão premiadas antes de colocar o produto à disposição do público.
"É uma possibilidade remota, mas possível", disse à Folha o empresário Artur Falk.
O Papa-Tudo e a Tele-Sena são comercializados nas 12 mil agências dos Correios, em lotéricas, supermercados e bancas de jornal.
Apenas o prêmio instantâneo é identificável antes abrir o título. As teleloterias também fazem vários sorteios durante cinco semanas, quando o apostador marca os números na sua cartela, como se fosse um bingo tradicional.
O nome oficial dos telebingos é título de capitalização: papéis que pagam um juro menor que o do mercado em troca de sorteios durante a validade da aplicação.

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