São Paulo, sábado, 20 de agosto de 1994
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Cheiro de passado

JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Como ator em princípio de carreira, Fernando Henrique entrou na disputa eleitoral desempenhando o papel de patinho feio. Foi acolhido no ninho do PFL.
O real, porém, emprestou-lhe plumagem mais vistosa. Rendeu-lhe o papel de protagonista, antes entregue a Lula, ex-gigante das pesquisas.
Em escassos três meses, a nova moeda deu ao tucano a aparência de cisne desta eleição. Agora, Fernando Henrique lida com o sucesso. E a fama traz uma boa e uma má notícia para o candidato.
A boa é óbvia: são infinitamente maiores as chances de vencer a eleição. A má notícia: as adesões que decorrem do sucesso deixam o palanque tucano com uma aparência assustadora.
Sob o compromisso de ser mantido no anonimato, um auxiliar de Fernando Henrique construiu uma imagem novelesca para resumir a situação do candidato.
"É como se Tarcísio Meira decidisse desfilar pelo calçadão de Copacabana", diz o assessor. "Uma legião de mulheres o perseguiria. Mulheres feias e mulheres bonitas".
No calçadão eleitoral, Fernando Henrique enfrenta fenômeno análogo. Está incomodado especialmente com a perseguição que sofre dos personagens feios da política brasileira.
O palanque do PSDB ficou grande demais. Nele cabem José Serra e Roberto Campos, Pedro Simon e José Sarney, Ciro Gomes e Gastone Righi.
Articula-se no comitê de Fernando Henrique a incorporação de Brizola à campanha, ainda que só no segundo turno. Neste caso, a composição do palanque ficará ainda mais rica.
O ex-governador do Rio fará par com Antônio Carlos Magalhães. E a caravana do candidato injetará o passado na eleição de 94.
O receio do tucanato é o de que um eventual governo do PSDB faça lembrar a Nova República de Sarney ou o Brasil Novo de Collor.
Tenta-se caracterizar as adesões como algo desinteressado. "Estou livre de amarras", diz Fernando Henrique. Ele promete um ministério com o que há de melhor em todos os partidos.
É improvável que a vitória de Fernando Henrique provoque nos personagens que o cercam a metamorfose que o real possibilitou à sua candidatura.
Alguns dos patinhos feios que hoje rodeiam o PSDB jamais tiveram vocação para cisne.

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