São Paulo, sábado, 20 de agosto de 1994
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Basquete brasileiro precisa despertar

EDGARD ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

O mundo dos esportes é mesmo de paradoxos, pelo menos no Brasil. A seleção ganha a Copa do Mundo e é malhada. De técnico de futebol e de louco, dizem, todos temos um pouco.
Vamos saltar para o basquete. A cena se repete. A seleção feminina acaba de se sagrar campeã mundial e o campeonato paulista, que começa na próxima semana, tem apenas cinco times.
São dois a menos do que no ano passado, o que já era pouco. E tem as doze campeãs mundiais. Não é basquete, é "tenda de milagre".
Hortência e Paula resistem nos clubes, mas estão fora da seleção. Fica o vazio no time olímpico. Sem a dupla, o Brasil certamente se dará mal em Atlanta-96.
Um mínimo de bom senso indica que o basquete deveria iniciar uma campanha para a volta de Paula e Hortência. Que seja apenas para os Jogos Olímpicos.
Pior é a situação do time masculino. Está em crise. A Confederação Brasileira de Basquete idealizou um projeto de renovação, que tropeçou no primeiro teste. Seis derrotas em oito jogos e a pior classificação em um Mundial (11º lugar).
Não há como negar. Toda regra tem exceção, mas é certo que há escassez de dirigentes, em quantidade e qualidade, para organizar a modalidade.
Nas categorias menores, o Brasil também vem se defrontando com resultados negativos nos torneios sul-americanos.
Enquanto curte a ressaca do vexame no Mundial e prepara a abertura da temporada, o basquete paulista homenageia terça-feira seus destaques de 93.
O ex-jogador Marcel de Souza, 37, vai ser homenageado. Um prêmio incontestável. Personagem de memoráveis campanhas do basquete brasileiro, o ex-astro divide agora seu tempo entre as profissões de médico e técnico de basquete.
A homenagem chega em hora oportuna. Pelo menos, o basquete começa a despertar para os ídolos que alimentaram o interesse do torcedor pela modalidade.
A imagem da cesta de Marcel, no último segundo contra a Itália e que levou o Brasil à medalha de bronze no Mundial das Filipinas, em 1978, continua viva. As cestas -de Marcel, Oscar e cia.– contra os EUA na decisão do Pan de 1987 em Indianápolis ainda repercutem.
Em contrapartida, o bi mundial (59 e 63) parece esquecido. É difícil encontrar quem se lembre daqueles jogadores.
Aliás, o basquete é pródigo em passar a borracha até mesmo sobre a sua história. O recente fracasso da seleção brasileira no Mundial do Canadá é um exemplo.
A título de uma nova política de renovação, fez questão de "deixar de lado" jogadores de peso, veteranos, mas que continuam em atividade.
O ala Oscar, 36, foi "sacrificado" em nome da tal renovação, mesmo estando ele no topo da lista dos cestinhas da liga espanhola, com 29,4 pontos por jogo.
Jogador decisivo em várias oportunidades, sempre impôs respeito aos adversários. Tudo isso foi desconsiderado.
Agora, a CBB corre contra o tempo na tentativa de evitar uma catástrofe maior, ou seja, que o Brasil fique novamente afastado do torneio olímpico masculino.
A seleção vai lutar por uma das três vagas no Pré-olímpico das Américas, em agosto de 95, na Argentina. Tem adversários fortes como o Canadá, Porto Rico, México, Venezuela e Argentina.
O Brasil não participou da inclusão do basquete na Olimpíada, em 1936. A seguir, só ficou de fora em Montreal-76.
Quatro anos mais tarde, também foi eliminado no Pré-olímpico de Porto Rico, mas acabou salvo pelo boicote aos Jogos de Moscou-80 e recebeu a vaga de presente. A "guerra fria" acabou. Desta vez, o vexame não terá maquiagem como em 80.

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