São Paulo, sábado, 20 de agosto de 1994
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Crise na Itália

SÍLVIO LANCELLOTTI

Duas semanas antes do começo do campeonato de 1994/95, o futebol da Itália atravessa uma crise formidável –que até pode provocar um rompimento de seus clubes com o governo de Sílvio Berlusconi, também o presidente do Milan.
A complicação se origina na quebra de inúmeras agremiações do país.
Anualmente, uma entidade denominada Covisoc, uma comissão de fiscalização de contas e de balanços, designada pela federação da Bota, mas com poderes discricionários e independentes, realiza uma profunda auditoria na administração dos times das três principais divisões profissionais. A Covisoc até pode fechar uma equipe.
Embora com 20 anos de atividades, apenas de quatro temporadas para cá, sob a gestão de Antonio Matarrese na Federação, a Covisoc se tornou radical. Nas últimas semanas, por exemplo, cancelou as licenças de funcionamento de times como o Pisa, a Triestina, o Mantova e a Sambenedettese. Debaixo da sua permanente atenção se mantém o Napoli e o Torino.
Ironicamente, vem desabando sobre Matarrese, o inspirador do atual trabalho da Covisoc, as acusações de responsabilidades pela crise. Ex-deputado da Democracia Cristã, eleito seguidamente desde 1976, Matarrese não se recandidatou em 93 exatamente para demonstrar a sua isenção. Os políticos ligados a Berlusconi, todavia, não o poupam de seu tiroteio, cada vez mais furioso.
Pior ficou a situação quando Francesco Farina, o dono do Modena, rebaixado à Série C-1, entregou à procuradoria de Milão um dossiê denunciando os clubes da A e da B de sonegação de imposto de renda, num montante calculado em US$ 60 milhões. Para completar o quadro, o esperto Berlusconi convidou Arrigo Sacchi, o mister da "Azzurra", vice do planeta na Copa dos EUA, a assumir um ministério extraordinário e supostamente moralizante. Sacchi não topou. Berlusconi, todavia, deixou engatilhadas as suas armas na direção de Matarrese.
"Espero que me chamem a depor na Câmara e no Senado", anunciou Matarrese na segunda-feira. "Desmontarei essas tolices todas e reafirmarei a correção da Covisoc. Estou acossado, mas não me demitirei. Recebi 5.544 votos em 5.872 possíveis.
Quem pretende o meu lugar que aguarde as eleições de 96. Até lá, eu permanecerei lutando pela regularidade dos campeonatos."

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