São Paulo, segunda-feira, 22 de agosto de 1994
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Mercado define opção pela 'esquerda'

ELVIRA LOBATO
DA REPORTAGEM LOCAL

No que depender da indústria farmacêutica nacional, o deputado federal Aldo Rebelo, do Partido Comunista do Brasil (PC do B), será reeleito.
Irma Pasoni (PT-SP), tem apoio das indústrias nacionais de telecomunicação, que disputam, no momento, o setor mais competitivo do capitalismo mundial.
A adesão desses dois segmentos a candidaturas de esquerda não acontece por afinidade ideológica com os partidos, mas por circunstâncias de mercado.
Os laboratórios e as indústrias nacionais de telecomunicação estão sob o fogo cruzado da concorrência estrangeira e, em busca da proteção para seus mercados, se aproximam dos parlamentares de esquerda que têm discurso nacionalista.
Segundo informações dos empresários, em todos os setores que passam por um enfrentamento com concorrência estrangeira -como têxteis, brinquedos e máquinas- há apoio discreto à reeleição de parlamentares de esquerda.
A aproximação dos laboratórios nacionais com o PC do B, em São Paulo, aconteceu durante a votação da nova Lei de Patentes, no ano passado.
Os laboratórios nacionais, que hoje copiam as fórmulas no exterior e as utilizam sem pagar royalties (o país ainda não reconhece patentes farmacêuticas), se mobilizaram para que o Congresso aprovasse prazo de dez anos para adaptação à lei.
Só o PC do B e o PDT, de Leonel Brizola, se engajaram na campanha dos laboratórios, e o projeto, que está para ser votado no Senado, limitou o prazo em um ano.
Embora a votação na Câmara não lhes tenha sido tão favorável, os laboratórios nacionais reconhecem que Rebelo fez o possível.
Dante Alário Júnior, 48, presidente da Associação dos Laboratórios Farmacêuticos Nacionais (Alanac), não economiza elogios ao se referir ao deputado: "Ele é sensível, honesto e um autêntico nacionalista ", afirma.
Alário representa cerca de 60 laboratórios. Ele é sócio da Sanus Framacêutica, de São Paulo. A empresa tem 180 funcionários e é subsidiária do grupo União Química, cujo faturamento anual é de US$ 36 milhões.
Nas telecomunicações, a maior parte dos empresários com título eleitoral de São Paulo votarão em Irma Pasoni, do PT, para deputado federal, embora estejam com com Fernando Henrique Cardoso para a presidência da República.
Marcos Eduardo Bandeira Maia, 49, presidente da Zetax –fabricante de centrais telefônicas com faturamento anual de US$ 25 milhões– explica por que a deputada ganhou a admiração dos empresários: "Foi quem mais brigou no Congresso pela proteção da tecnologia e da empresa nacional".

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