São Paulo, quinta-feira, 25 de agosto de 1994
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De médicos e Diners Club

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO -Se os dois principais candidatos à Presidência da República fossem médicos, estaríamos todos mortos. Ambos cometeram erros de diagnóstico tão brutais que qualquer CRM cassaria o registro dos dois.
O erro de Luiz Inácio Lula da Silva foi no diagnóstico do real. "Congela a miséria", decretou Lula. Errou feio. Agora, prepara-se para errar de novo. Ameaça trocar os enfermeiros (o comando de campanha), quando quem fez o diagnóstico equivocado foi o próprio médico (Lula), auxiliado, é verdade, por seus auxiliares mais próximos.
Aliás, se for mesmo para trocar de comando, eu tenho até um nome para sugerir ao PT: é o do deputado Antônio Delfim Netto (PPR-SP). Seu diagnóstico sobre o real, na Folha de ontem, é irretocável.
No caso de Fernando Henrique Cardoso, o primeiro equívoco de diagnóstico apareceu nas entrevistas à Folha e, em seguida, à revista "Veja". FHC disse que o Brasil já não era mais um país subdesenvolvido. Seria apenas injusto.
Bobagem. Um país em que o saneamento básico mal chega a um terço de seus habitantes é subdesenvolvido, sim, seja qual for o padrão de medida que se adote. Fora os demais indicadores de saúde, educação, déficit habitacional etc.
Segundo equívoco: na entrevista à Folha, o candidato tucano deu por morta a fisiologia como prática política. Queimou a língua. Dias depois, o governo que o apóia acentuou a prática do que se poderia chamar de fisiologia Diners Club. Precisar, o candidato não precisa, pelo menos por enquanto, mas nem por isso o governo deixa de praticá-la.
Ou o "rush" para entregar em pleno período eleitoral casas populares estocadas há anos merece outra designação que não a de fisiologia? Há alguma diferença de essência entre prometer dentaduras em troca do voto ou acenar com casas populares? A única diferença é de valor do bem prometido, nada mais.
Já que não há mais tempo de trocar de médicos, resta torcer para que o receituário que um ou o outro venha a seguir, uma vez na Presidência, não tenha parentesco com os diagnósticos que fizeram.

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