São Paulo, domingo, 28 de agosto de 1994
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Ganhos vieram da ciranda financeira

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

Os bancos ganham com a inflação. Mas não se pode concluir daí que todos os ganhos dos bancos sejam inflacionários, nem que esses lucros sejam a causa da inflação. Na verdade, os bancos e investidores se beneficiam de uma inflação produzida pelo governo.
Bancos trabalham com dinheiro próprio e dos outros, pessoas e empresas. Esse dinheiro é aplicado em títulos dos governos, em papéis de empresas privadas, em moeda estrangeira, na bolsa e assim por diante.
Os investidores ganham juros e a valorização dos papéis. Além disso, os bancos, quando aplicam o dinheiro dos seus clientes, ganham como intermediários. Passam o lucro para o cliente, cobrando o serviço de intermediação.
É a mesma coisa quando o banco toma dinheiro emprestado de um cliente (e paga juros a ele) e o empresta a outro (cobrando juros maiores). Ganha pelo serviço de intermediação financeira.
Esses ganhos – de operações de crédito e intermediação – não são inflacionários. O chamado ganho inflacionário é aquele que os bancos obtêm aplicando dinheiro de terceiros sem ter que remunerar os donos desses recursos.
Exemplos principais: o dinheiro deixado em conta corrente; dinheiro que o banco recebe em pagamento de contas e transfere ao dono alguns dias depois; dinheiro que recebe de impostos e entrega ao governo posteriormente.
Mas também há perdas inflacionárias: o dinheiro que fica parado nos caixas automáticos ou nos guichês das agências.
Todo dia, o banco junta o dinheiro que fica lá parado, desconta o que tem de deixar nos caixas, e aplica tudo, por um dia, quase sempre em títulos dos governos, federal, estaduais e municipais.
Esses títulos são espécies de promissórias que os governos colocam no mercado para cobrir falta de recursos em caixa.
Quanto mais gastam sem ter recursos obtidos com a receita de impostos (ou gastam mais do que arrecadam) governos são obrigados a tomar emprestado. Emitem promissórias e vão ao mercado.
Todos os governos, no mundo todo, fazem isso. Mas há diferença entre um bom e um mau endividamento. É bom quando o governo toma empréstimo para fazer investimentos novos (construir uma estrada, reurbanizar cidades).
A suposição é a de que esse investimento tem retorno – o governo cobra pedágio, por exemplo, ou a obra provoca atividade econômica que gera mais impostos.
O negócio fica feio quando o governo toma dinheiro emprestado para pagar gastos correntes, como salários do funcionalismo ou despesas com hospitais. É dinheiro sem retorno. Pagou, sumiu. Mês que vem precisa de novo.

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