São Paulo, terça-feira, 30 de agosto de 1994
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O plano para a safra de verão

NELSON BATISTA MARTIN

Os agricultores do Centro-Sul do Brasil se preparam para plantar a safra de grãos de 1994/95.
Mas ao contrário de 1993, quando no segundo semestre os mercados sinalizavam uma perspectiva de bons preços para os grãos –especialmente soja, algodão, milho e arroz–, atualmente, pelo menos para milho e soja, os preços futuros não são animadores, diante da recuperação da produção norte-americana.
Esta é a maior incerteza que se apresenta aos agricultores brasileiros, ao lado daquelas que envolvem o Plano Real, como o comportamento futuro das taxas de câmbio e de juros.
É neste contexto que os produtores vão decidir o que e quanto produzir na safra 1994/95. E é neste contexto que se deve analisar o plano de safra que está sendo implementado pelo governo.
Este plano apresenta evidente evolução em relação ao anterior. Veja abaixo os pontos considerados positivos.
1 - O volume de recursos de R$ 5,65 bilhões, cerca de 35% superior ao da safra anterior.
2 - A equivalência-produto, que evita a dissociação entre os custos dos empréstimos e o preço mínimo.
3 - O estímulo à cultura do algodão através de 100% do Valor Básico de Custeio, imposição de tarifa de importação de 6% e do ágio dos preços mínimos de 10%, dependendo das condições de mercado a partir de dezembro de 1995.
4 - O fato de o plano tratar de forma desigual os desiguais, através de taxas de juros fixas de 6% ao ano para os miniprodutores; 6% ao ano mais 50% da TR para os pequenos produtores e de 4% ao ano fixos para o Programa de Valorização da Pequena Produção Rural.
Como pontos negativos destacamos:
1 - A volta da soja para a política de preço mínimo, o que poderá exigir maior intervenção futura do governo nos mercados agrícolas, quando da comercialização da safra.
2 - A continuidade das incertezas na política cambial, que dada a elevada tributação que os produtos agrícolas enfrentam nas exportações, poderá afetar a competitividade internacional destes produtos.
Mas, tendo em vista que na última safra os agricultores conseguiram um ganho real entre 8% e 15% nos seus preços –e portanto se encontram mais capitalizados neste início do novo ano agrícola–, já se observam sinais evidentes de expansão na produção de feijão, algodão e milho.
Dependendo das tendências do mercado da soja, é possível que ocorra uma manutenção ou uma leve queda no seu nível de produção. Ao mesmo tempo, os primeiros sinais de sucesso do Plano Real indicam um aquecimento da demanda de produtos agropecuários "in natura" e processados, cujos preços estão livres.
Tudo isso mostra que os produtores da maioria dos grãos tendem a dispor de condições favoráveis de mercado e, dependendo das condições climáticas futuras, poderemos obter uma safra de grãos de verão no Centro-Sul em torno da obtida na última safra, que chegou a 61 milhões de toneladas.

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