São Paulo, terça-feira, 30 de agosto de 1994
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IPC-r de 5,46% é a senha para os sindicatos pedirem reajuste mensal

CRISTIANE PERINI LUCCHESI
ANTONIO CARLOS SEIDL

CRISTIANE PERINI LUCCHESI; ANTONIO CARLOS SEIDL
DA REPORTAGEM LOCAL

O anúncio do IPC-r de 5,46% trouxe preocupação aos empresários e deu novo fôlego aos sindicalistas para criticar o Plano Real.
Segundo sindicalistas ouvidos pela Folha, o índice demonstra a necessidade do reajuste mensal dos salários.
O presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Carlos Eduardo Moreira Ferreira, disse que o índice "preocupa" a indústria, mas que o reajuste salarial não será repassado aos preços.
Para o presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, o índice "demonstra a falsidade" do plano.
Moreira Ferreira disse que o número não significa que o Plano Real "esteja fazendo água".
Cerca de 200 mil metalúrgicos do Estado de São Paulo, da base da Força Sindical, podem até realizar greves por empresa a partir do dia 5, segundo Paulo Pereira da Silva, presidente do sindicato da cidade de São Paulo.
No dia 5, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABCD também ameaça parar sua base pelo reajuste mensal. "O reajuste está previsto no acordo da câmara setorial automotiva", argumenta Paulinho.
Mais de 650 mil bancários e 50 mil petroleiros, que têm data-base em setembro, vão receber pela lei no mínimo 11,87% (6,08% do IPC-r de julho mais os 5,46% de agosto). Mas suas lideranças sindicais argumentam que as perdas são muito maiores.
Citando a ameaça do governo de reduzir tarifas de importação para evitar aumentos de preços Moreira Fereira, disse que as empresas que repassarem os aumentos salariais correm o risco de sofrer forte concorrência internacional.
O ministro do Trabalho, Marcelo Pimentel, disse em Belo Horizonte (MG) que a taxa foi um "acidente de percurso previsível" e que não abala o plano.
Segundo economistas ouvidos pela Folha, a taxa demonstra que o governo errou ao escolher esse índice para reajustar os salários. Os outros índices, argumentam, são menores.
Para Mailson da Nobrega, o resultado demonstra que a indexação continua inevitável. "O índice foi uma surpresa", afirmou.
Já para o economista Gil Pace, "acabou a lua de mel do Plano Real". Segundo ele, se não for adotado um pacote de restrição ao crédito e liberação das importações, haverá aumento de consumo e a inflação pelo IPC-r vai subir ainda mais em setembro.
"Os aumentos de salário serão repassados aos preços do setor privado, que estão livres", afirma.
Colaborou a Agência Folha, em Belo Horizonte e a Sucursal do Rio

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