São Paulo, terça-feira, 30 de agosto de 1994
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Neto de Richard Wagner prepara evento para o próximo milênio

LUÍS ANTÔNIO GIRON
ENVIADO ESPECIAL A BAYREUTH

"O Crepúsculo dos Deuses", quarta e última parte do "Anel dos Nibelungos", do compositor Richard Wagner, é uma ópera tão longa que nem mesmo o público em Bayreuth teve forças para aplaudir no último sábado.
A atmosfera da obra é leve como uma bigorna, e os cantores estavam na lona na boca de cena, em meio a aplausos fracos e apupos sussurrados. Era a última apresentação da obra no ano, depois de três ciclos, que duraram um mês.
O cansaço não afetou Wolfgang Wagner, encenador e diretor artístico do Festival de Bayreuth, que terminou anteontem com a sexta récita de "Tristão e Isolda". Ele estava alegre e agitado. "Estou muito contente com o festival este ano", comentou.
Wolfgang é o sumo sacerdote do wagnerismo há 43 anos. O neto de Richard Wagner completa 75 anos hoje com uma festa em família, ao lado dos dois filhos e da segunda mulher, Gudrun, secretária do festival e provável sucessora.
Acaba de publicar sua autobiografia, intitulada "Lebens-Akte" (Atos da Vida, ed. Albrecht Knaus, 500 págs., 49,8 marcos). Prepara para 1996 sua terceira montagem de "Os Mestres Cantores de Nuremberg" (as outras foram em 1968 e 1981, ambas com grande êxito).
Wolfgang recebeu a Folha em pleno "sacntum sancotrum" wagneriano: o do Festspielhaus.

Folha - O sr. já pensa no próximo século?
Wolfgang Wagner - Penso, devo pensar, claro, e já tenho coisas muito concretas em mente. Por exemplo, o "Anel" de Alfred Kirchner (diretor cênico) e Rosalie (cenógrafa e figurinista) será apresentado nos próximos quatro anos, ou seja, até 1998. Em 1999, faremos uma pausa, que é tradicional. Só voltaremos ao ringue no próximo século. Este é o último "Anel" do século 20.
Folha - Qual foi o resultado em dinheiro e público do festival este ano?
Wagner - Como todos os anos, tivemos quase 60 mil pessoas no teatro e quase 500 mil sem ter conseguido entrar. Como sempre, o lucro de bilheteria cobriu apenas 55% dos custos do festival, que este ano foi de 21 milhões de marcos (US$ 14 milhões).
Folha - O que levou o sr. a escrever "Lebens-Akte"?
Wagner - A vontade de responder aquelas perguntas de sempre que os jornalistas fazem: números, documentos, datas, listas, dúvidas. Está tudo no livro. E ele acaba de sair em inglês. Outro fator que me impulsionou foi a vontade de fazer um panorama de meu trabalho no período conhecido como "Novo Bayreuth" (1951-1970). É um livro de consulta.
Folha- Como serão os dois próximos festivais?
Wagner - Para 1995, vamos tirar de cartaz o "Parsifal", que teve encenação minha durante cinco anos. Será substituído por uma reprise de 1993: "Tannhnãuser", também com encenação minha, com regência de Donald Ronicals.
A ópera abrirá o festival no dia 25 de julho de 95. Terá como solistas principais o tenor alemão Wolfgang Schmidt e a soprano finlandesa Heikki Siukula. No dia 26 de julho, o festival estará completando 2.000 apresentações em toda a sua história. Para 1996, quero remontar "Os Mestres Cantores de Nuremberg", com direção musical de Daniel Barenboim.
Folha - O sr. já sabe como será a abordagem da ópera?
Wagner - Sim. Os planos estão bem avançados. Quero encenar a utopia da reconciliação de Sachs e Beckmesser, tal como fiz em 1981. Desejo mostrar através da dramaturgia de Wagner que é possível a concórdia dos contrários na humanidade. Será uma festa no palco.
Falta encontrar os músicos adequados. Os cantores, por exemplo, estão muito difíceis de serem achados. Wagner pede intérpretes com voz potente e capacidade de atuação. Vamos sair procurando essas aves raras pelo mundo a partir de agora. Sem elas, não há utopia que se sustente no palco, por melhor que seja pensada.
O festival de Bayreuth é um dos poucos eventos culturais do mundo com uma preocupação realmente internacionalista. Aqui todas as nações e culturas se encontram. Este era o desejo de Wagner.
O jornalista LUÍS ANTÔNIO GIRON viaja à Alemanha a convite da gravadora Polygram

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