São Paulo, terça-feira, 30 de agosto de 1994
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Refugiados cubanos desembarcam na Bahia

LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

Sete refugiados cubanos chegaram ontem a Salvador (BA) transportados pelo navio Merida, de bandeira mexicana.
Estes são os primeiros refugiados cubanos que chegam ao Brasil depois do início da fuga em massa para os Estados Unidos.
Os sete cubanos (todos homens) foram encaminhados à Polícia Federal e receberam do órgão uma carteira que comprova a situação de refugiados.
"Com essa carteira eles podem trabalhar e exercer suas profissões normalmente", disse a delegada Lia Margarida.
Os refugiados foram resgatados pelo navio há quatro dias, a cerca de 144 km da costa mexicana. "Ou a gente aceitava a carona ou morria afogado", disse Oswaldo Alvarez Lopez.
Em seu depoimento à Polícia Federal, Lopez disse que os cubanos queriam fugir para os Estados Unidos. "Com três dias de viagem em uma pequena balsa ficamos perdidos no mar".
A delegada Lia Margarida disse que os cubanos ficarão à disposição do Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados). "Um representante do órgão está na Bahia para facilitar a tramitação dos documentos".
No final da tarde de ontem, os cubanos preencheram uma ficha na Polícia Federal e requereram asilo político. Apenas um tinha carteira de identidade.
O responsável pelo setor de registro de estrangeiros da PF em Salvador, Paulo Sampaio, disse que os cubanos "não estavam dispostos a aceitar o refúgio".
"Se eles não aceitassem ficariam impedidos de desembarcar do navio", disse Sampaio.
O refugiado José Alberto Rama Aranda disse que o principal motivo da fuga em massa dos cubanos é o regime político. "Está insustentável viver em Cuba".
Somente este mês cerca de 17 mil cubanos fugiram para os Estados Unidos.
Jorge Alberto Lopez Martas disse que o plano de fuga do grupo foi elaborado no começo do mês. "Chegamos à conclusão de que não dava para viver em nosso país", afirmou.
Lopez Martas disse também que o grupo somente sobreviveu por milagre. "Ficamos perdidos no mar e ainda tivemos de enfrentar as péssimas condições climáticas".
Margarida disse que um documento informando sobre a chegada dos cubanos à Bahia deve seguir ainda hoje para o governo federal.
"Acho que os cubanos não vão ter nenhuma dificuldade para conseguir documentos necessários em pouco tempo", disse a delegada.
Ontem à noite o representante da Cáritas, em Salvador (BA), Daniel Carvalho, disse que os cubanos iriam dormir no navio. "Somente amanhã é que vou procurar hospedagem para o grupo".
A Cáritas é uma organização da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). Carvalho disse que foi escolhido representante do Acnur para acompanhar a situação dos refugiados em Salvador.

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