São Paulo, quarta-feira, 31 de agosto de 1994
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Governo tenta evitar que salário 'contamine' preço

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O novo impasse do governo é descobrir como evitar que os reajustes salariais de setembro sejam repassados para os preços, gerando uma bola de neve inflacionária.
Trabalhadores com data-base em setembro terão reajuste de 11,87%. A preocupação ocupou o pronunciamento de ontem do ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, em rede de rádio e TV.
Ricupero tentou minimizar os efeitos do IPC-r –índice oficial da inflação e indexador dos salários– que foi de 5,46% em agosto.
"Esse índice vai ser usado somente na data-base, porque é o que está na lei, e sem repasse para os preços", prometeu.
Os preços foram mantidos liberados pelo Plano Real. Mecanismos de controle até agora não foram empregados com êxito pelo governo, por falta de estrutura jurídica e de fiscalização.
Segundo Ricupero, os empresários poderão conceder reajustes salariais com "os lucros dos aumentos das vendas e a gordura dos preços", sem elevar os preços.
O próprio ministro disse que o IPC-r de agosto, base dos próximos reajustes salariais, ficou "muito acima da inflação verdadeira".
O ministro argumentou que outros índices registraram uma inflação menor no mês. Disse também que o IPC-r ainda reflete as remarcações da época do cruzeiro real.
Ele chegou a dizer que o IPC-r garantirá a reposição de "qualquer perda (salarial) que tenha havido no período da URV e agora com o real, inclusive as causadas pela remarcação selvagem de preços" do final de junho". Até então, o governo não admitia ter havido perdas salariais no período da URV.
Afirmou que não haverá mudanças no plano após as eleições. "O Plano Real é um só. Não tem número um e não tem número dois".
Foi uma alusão ao Cruzado, que teve nova versão depois das eleições de 1986. "Nada deixará de ser feito agora, se for preciso, só porque estamos perto das eleições. Nada será feito depois só porque as eleições já terão passado.".
O ministro também pediu que a Semana da Pátria seja "a semana contra a sonegação e pró-nota fiscal, a semana contra os preços altos e a favor do consumidor".
Disse ainda que o governo obrigará as lojas a exibirem, em local visível, o valor dos juros embutidos nas compras a prazo.
Segundo Ricupero, tal regra já está prevista em uma lei de 1977, e será utilizada para acabar com a "exploração" promovida por comerciantes que embutem juros de 8% a 12% ao mês nos crediários.
É a primeira medida direta do governo contra a alta do consumo desde o lançamento do real.
Ricupero também considerou falsa a afirmação de que a caderneta de poupança está perdendo para a inflação. Segundo ele, o índice está acima da inflação verdadeira.

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